EDITOR: Edgar Olimpio de Souza (O endereço de e-mail address está sendo protegido de spambots. Você precisa ativar o JavaScript enabled para vê-lo.

 

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APCA: os melhores de 2013 no teatro

Cada vez mais densa e plural, a temporada teatral paulistana outra vez se caracterizou pelo mosaico de linguagens, pesquisas e nomes importantes em atuação no palco ou na coxia. Em reunião realizada na noite de segunda-feira (09), foram selecionados pela crítica especializada da Associação Paulista de Críticos de Arte (APCA) aqueles que mais se destacaram neste ano em São Paulo.

Com performance vigorosa, piramidal e crivada de nuances e matizes, a dupla Débora Falabella e Yara de Novaes venceu na categoria melhor atriz pelo desconcertante drama Contrações, do dramaturgo inglês Mike Bartlett.  Dirigida por Grace Passô, a peça é ambientada em uma grande corporação e transcorre sob atmosfera de pesadelo. Ambas as intérpretes acionam uma espécie de marcha progressiva de ultrajes, afrontas e manipulações.

Eleito melhor autor do ano, o ator e diretor Kiko Marques tece no drama épico Cais ou da Indiferença das Embarcações uma história comovente em torno de três gerações de uma família. Embalada por encontros, desencontros e enredos entrelaçados, a história se desenvolve na Ilha Grande, no litoral fluminense. Como a trama não evolui de forma linear, o espectador se vê desafiado a montar o insinuante quebra–cabeças. A montagem entrou em cartaz de forma tímida e, aos poucos, arrebatou aqueles que apreciam bom teatro.

Na disputa de melhor ator, deu Cassio Scapin. Na pele da referencial atriz e diretora Myriam Muniz (1931-2004), ele engata uma interpretação tão epidérmica e emocionante da personagem que parece encarná-la no palco. Dirigido por Elias Andreato, e escrito pelo próprio ator em parceria com o dramaturgo Cássio Junqueira, o monólogo Eu Não Dava Praquilo escapa do didatismo fácil, garimpa momentos curiosos da homenageada e histórias surpreendentes da sua vida.

O itinerante Folias Galileu, de Rafaela Penteado, Heloisa Cardoso e Grupo Folias, conferiu a Dagoberto Feliz o título de melhor diretor da temporada que finda. Envolvente, ousado e inquieto, a montagem inspirada na versão de Brecht estimula o público a compor sua leitura sobre a trajetória do polêmico físico e astrônomo italiano Galileu Galilei (1564-1642), dependendo do percurso escolhido. A direção nunca deixa a encenação perder ossatura e eletricidade frente ao desafio de desfiar uma história costurada por um caleidoscópio de opiniões, teses e antíteses.

O principal espetáculo do ano coube a Nossa Cidade, do dramaturgo americano Thornton Wilder, que Antunes Filho reconstruiu e atualizou. O diretor navega do naturalismo para o épico, politiza o enredo e oferece novos olhares. Em cena pungente, uma das personagens, inconformada com o seu destino, aspira fugir do círculo dos mortos para retornar à vida.  Em outra, a figura da Estátua da Liberdade direciona um facho de luz para o mundo, numa crítica sutil à postura belicista dos Estados Unidos e à mentalidade que a corrobora.

O Prêmio Especial da Crítica contemplou a atriz Eva Wilma e o projeto Baú de Arethuza. A veterana intérprete completa seis décadas de carreira e neste ano foi vista na comédia dramática Azul Resplendor. Na peça escrita pelo peruano Eduardo Adrianzén, com direção de Renato Borghi e Élcio Nogueira, ela representou uma atriz aposentada que é convencida a regressar aos palcos. Já a Cia. Os Fofos Encenam levou à cena em intervalos regulares cinco espetáculos inéditos que resgataram o universo do circo-teatro, entre eles, o divertido Antes do Enterro do Anão. O projeto culminou com a remontagem do hilário texto A Mulher do Trem.      

Um dos nomes mais relevantes do teatro brasileiro, Maria Thereza Vargas foi agraciada com o Grande Prêmio da Crítica pela longa trajetória como pesquisadora e estudiosa teatral e pela autoria do livro Cacilda Becker:Uma Mulher de Muita Importância. Com imagens, relatos e análises, a obra lança um olhar carinhoso sobre a vida daquela que é considerada por muitos como a melhor atriz brasileira de todos os tempos.  

A festa de premiação está marcada para março do próximo ano. Na reunião, votaram os críticos Afonso Gentil, Aguinaldo Ribeiro da Cunha, Edgar Olimpio de Souza, Erika Riedel, Evaristo Martins de Azevedo, Gabriela Mellão, Maria Eugênia de Menezes, Miguel Arcanjo Prado e Vinício Angelici. 

(Abertura: Contrações / Foto Divulgação)

 

Abaixo, a relação dos vencedores de 2013 no setor teatral:

 

Autor: Kiko Marques (Cais ou da Indiferença das Embarcações

Ator: Cassio Scapin (Eu Não Dava Praquilo) (foto ao lado)

Atriz: Débora Falabella e Yara de Novaes (Contrações)

Diretor: Dagoberto Feliz (Folias Galileu)

Espetáculo: Nossa Cidade (Direção de Antunes Filho)

Prêmios Especiais da Crítica: Eva Wilma (60 anos de carreira) e Projeto Baú de Arethuza (Cia Os Fofos Encenam)

Grande Prêmio da Crítica: Maria Thereza Vargas (Longa e brilhante carreira de pesquisadora teatral e pela autoria do livro Cacilda Becker:Uma Mulher de Muita Importância)

   

 



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