EDITOR: Edgar Olimpio de Souza (O endereço de e-mail address está sendo protegido de spambots. Você precisa ativar o JavaScript enabled para vê-lo.

 

  • Font size:
  • Decrease
  • Reset
  • Increase

Teatro: A Madrinha Embriagada

É uma trama cheia de confusões, caos e romances em desconstrução. Primeiro rebento de um projeto de formação de público para musicais desenvolvido pelo Sesi-SP, o espetáculo funciona por conta do enredo extravagante, da envolvente trilha sonora, dos vibrantes números musicais e das interpretações solares. A peça, de Bob Martin e Don MC Kellar, com músicas e letras de Lisa Lambert e Greg Morrison, cumpriu temporada de sucesso na Broadway, em 2006 e 2007, e colecionou diversos prêmios. A versão nacional, assinada pelo diretor Miguel Falabella, é ambientada na São Paulo no início do século passado e resultou em uma encenação bastante aprazível.

Tudo tem início quando um solitário fã do gênero, denominado Homem da Poltrona, sujeito que gasta parte de seu tempo ouvindo shows de musicais há muito esquecidos, decide rodar na vitrola o álbum gravado de A Madrinha Embriagada, encenada na paulicéia em 1928. Como em passe de mágica, os personagens daquela peça emergem do passado e se materializam ali. Duas narrativas começam a conviver: a do rapaz que preenche a sua vida com as lembranças desse musical e o próprio que é revivido em seu imenso apartamento.

A farsa é um prodígio de situações rocambolescas. Há um casal carismático, um amigo tenso, um produtor que se dedica a criar intrigas, sua namorada sem talento algum, dois divertidos capangas, um amante latino, uma senhora dona da mansão onde transcorrem os eventos e seu mordomo sarcástico, uma aviadora que aterrissa vindo do nada. E, claro, uma madrinha embriagada, contratada para cuidar da noiva antes do matrimônio. História simples, mas banhada de confusões suficientes para apimentá-la.

A peça dentro da peça tem como personagem central uma glamourosa musa do teatro que decide abandonar os palcos porque vai se casar com um magnata do petróleo. Sua decisão, no entanto, precipita um fuzuê danado. Como o produtor de seus shows está descontente com a perda de sua principal atração, ainda que possa substituí-la pela namorada inepta, um homem galanteador é recrutado para seduzir a estrela e demovê-la da opção. Gângsteres disfarçados de padeiros portugueses também encorpam o golpe gestado.

O elenco reunido oferece performances precisas e todos estão empenhados em fazer o público se divertir. O ator Ivan Parente revela-se irrepreensível no papel do Homem da Poltrona, desfiando talento e humor nos momentos em que se insinua na trama. No melhor estilo narrador ou coro grego, ele tece comentários sobre a vida dos personagens, suas performances no espetáculo, a mecânica da encenação. Sara Sarres está deslumbrante como a atriz agora interessada apenas no casamento. Seu rendimento também é bastante satisfatório nos números de dança. Com suas longas pernas, ela lembra muito a divina atriz e bailarina Cyd Charisse, famosa por suas parcerias no cinema com Fred Astaire e Gene Kelly. Na pele da madrinha embriagada, Stella Miranda exibe atuação solar e cheia de brilho.  

Frederico Reuter interpreta com grande acerto o empresário prestes a arrebatar do meio teatral a notabilizada atriz. Fernando Rocha desempenha de forma elegante o rígido amigo do noivo. Cleto Baccic garante boas risadas como o amante latino convocado para reverter a decisão da musa. Inspirados, Rafael Machado e Daniel Monteiro são os atrapalhados espiões que se envolvem nas artimanhas do produtor. Edgar Bustamante, como o mordomo, e Ivanna Domenyco, sua patroa, preenchem seus respectivos personagens de vitalidade.  Em participações especiais, Saulo Vasconcelos, dono do teatro, e Kiara Sasso, a corista sem talento, desatam carisma e humor. Mesmo em breve aparição, Jessé Scarpellini é seguro e desenvolto na função do zelador do prédio onde reside o narrador da história.

A direção de Falabella concedeu ao espetáculo um ritmo contagiante e o tempo todo interessante. Por meio dessa paródia melodramática sobre a alta sociedade paulistana dos anos 1920, ele opera uma homenagem afetuosa aos artistas e ídolos que encantaram as platéias daquela época e constrói crítica bem humorada sobre as convenções das antigas comédias musicais. Ele rege o coro de 25 atores com grande competência, criando um espetáculo delicioso, leve, crivado de energia e muito agradável de se acompanhar.

Uma das cenas primorosas acontece quando um número de dança se repete porque a agulha da vitrola emperrou e precisa ser substituída. Em sequência comovente, o narrador se intromete no meio do musical para contar sua história pessoal e a razão pela qual se sente  solitário. Falabella não teria obtido êxito completo se não arregimentasse uma competente equipe técnica. A cenografia de Renato Theobaldo e Beto Rolnick ilustra a arquitetura neoclássica das mansões da Avenida Paulista do início do século passado e decora suas paredes com obras de pintores modernistas.

Criada por Fábio Retti, a iluminação busca realçar os ambientes sem exageros. Os deslumbrantes figurinos de época, do estilista Fause Haten, resultam de uma apurada pesquisa sobre o visual daqueles tempos. O maestro Carlos Bauzys é responsável pela eficiente direção musical e a maestrina Laura Visconti conduz com garra a orquestra de quinze músicos. A coreógrafa Kátia Barros enfrenta o desafio de criar movimentos atraentes, espirituosos e atrevidos, executados com perfeição pelos atores. Uma montagem que se vale da simplicidade para extrair momentos especiais.     

(Vinicio Angelici – O endereço de e-mail address está sendo protegido de spambots. Você precisa ativar o JavaScript enabled para vê-lo. )

(Foto Caio Gallucci)

 

Avaliação: Ótimo  

 

A Madrinha Embriagada

Texto: Bob Martin e Don Mc Kellar

Músicas e letras: Lisa Lambert e Greg Morrison

Direção: Miguel Falabella                                                                                                

Elenco: Sara Sarres, Ivan Parente, Roberto Marcos, Saulo Vasconcelos, Kiara Sasso e outros.                                                                                                                                  

Estreou: 17/08/2013                                                                                                             

Teatro Sesi São Paulo (Avenida Paulista, 1313, Cerqueira César. Fone: 3146-7406). Quarta a sexta, 21h; sábado, 16h e 21h; domingo, 19h. Grátis. Até 29 de junho de 2014.  

 

Comente este artigo!

Modo de visualização:

Style Sitting

Fonts

Layouts

Direction

Template Widths

px  %

px  %