EDITOR: Edgar Olimpio de Souza (O endereço de e-mail address está sendo protegido de spambots. Você precisa ativar o JavaScript enabled para vê-lo.

 

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Teatro: Todos os Musicais de Chico Buarque em 90 Minutos

Não é dos melhores trabalhos da dupla Charles Moeller (concepção e direção) e Cláudio Botelho (roteiro e direção musical), mas a homenagem aos 70 anos do cantor e compositor Chico Buarque exala o mérito de fugir da obviedade de biografar o artista.  Ambos decidiram seguir outra perspectiva, a de criar um espetáculo a partir das canções que viraram clássicos e foram compostas por ele para o teatro, o cinema e a televisão, no período entre 1965 a 1989. Mesmo que desequilibrada, a encenação oferece justa celebração ao maior ícone da MPB. A montagem costura composições extraídas de Roda Viva (1967), Morte e Vida Severina (1968), Gota d´Água (1975), Ópera do Malandro (1978) e O Grande Circo Místico, entre outros espetáculos.

Um tanto desalinhado, o roteiro foi tecido a partir de elementos e conceitos da commedia dell´arte. Na trama, que evolui por meio das músicas, uma trupe de artistas mambembes perambula por diversas cidades brasileiras para apresentar seu repertório teatral. Por ter a memória comprometida, o veterano Carlos (Cláudio Botelho), dono da companhia, decide registrar num bloco de notas as lembranças e reminiscências que ainda guarda dessas viagens. Em suas memórias inexatas, narradas em off, ele contabiliza não só os bons momentos do grupo como os encontros e desencontros amorosos que eclodem a partir do ingresso de uma nova integrante, a jovem Margarida (Malu Rodrigues). É em torno da presença dessa bela figura, que desestabiliza seu casamento e as demais relações, que se movimentam os demais componentes da companhia, como a primeira dama (Soraya Ravenle), o filho prodígio Juca (André Loddi), a mocinha Rita (Estrela Blanco), o galã Dito (Felipe Tavolaro), a cartomante Lea (Lilian Valeska) e a cigana Lia (Renata Celidonio).

Toda a encenação é armada para produzir bons efeitos no palco.  Não há desperdício da matéria prima musical, mesmo diante do difícil desafio de dar sentido a uma história alavancada por canções garimpadas de obras distintas. Amparada nesse fiapo de trama, com situações desenvolvidas precariamente, a direção trata de desenhar marcações que anabolizam as sequências musicais. Charles Moeller demonstra habilidade ao encontrar equilíbrio possível entre um enredo tênue, com alguns personagens mal construídos, e a excelência da obra do artista. Há momentos encantadores, como a divertida solução para Ciranda da Bailarina, a inventiva criação cênica de Geni e o Zepelim, quando os atores manipulam placas com versos da música, e as lanternas que iluminam na escuridão durante a execução de Pedaço de Mim. Escorrega, todavia, no quadro em que alguns espectadores são chamados ao palco para formarem a platéia de uma cidadezinha que está recebendo a trupe – é uma interatividade desnecessária.

Heterogêneo em tipos físicos, experiência profissional e faixa etária, o elenco cumpre bem sua missão coletiva, com a adição de solos que permitem ainda o brilho pessoal. Referência nos musicais brasileiros, Soraya Ravenle empenha seus amplos recursos vocais nas interpretações de Gota d'Água, Não Sonho Mais, Vida e Bom Conselho. Presença bonita em cena, a afinada Malu Rodrigues confere suavidade e ternura ao entoar O Circo Místico e O Último Blues. A jovem Estrela Blanco, de notório talento, entrega sua técnica vocal e sentimentos à flor da pele em Teresinha – em outro grande desempenho, ela dá vida a uma efusiva nordestina em A Violeira. Com voz típica de soul, Lilian Valeska arrebata em Funeral de um Lavrador. Renata Celidônio desfia Sob Medida com ironia rasgada. Na seara masculina, André Loddi e Felipe Tavolaro desempenham com segurança os papéis de galãs e ostentam rigor vocal na hora de cantar. Na pele de narrador, Cláudio Botelho mostra desenvoltura em cena, porém revela-se aquém dos colegas nos números musicais. No entanto, compensa as limitações empunhando um estilo mais recitativo de canto.       

Sheila Aquino e Marcelo Chocolate urdiram boas coreografias para O Meu Amor, Tango de Nancy e Ana de Amsterdã. Em alguns números, as criações avançam pouco além da configuração de uma ciranda. Austero, o cenário de Rogério Falcão, uma estrutura de ferro ladeada por escadas, não se abre para muitos significados, mas permite diversidade de composições cênicas. Não muito inspirados, os figurinos de Marcelo Pies abusam de tecidos, cores e linhas. A iluminação de Paulo César Medeiros se vale de tubos fluorescentes coloridos e realça as variadas camadas emocionais proporcionadas pela trilha musical. 

Com seu espírito burlesco, a montagem oferece um tecido musical irrepreensível e harmonioso, pontuada pela excelente direção musical de Botelho e os sofisticados arranjos e orquestração de Thiago Trajano. Apenas quatro músicos em cena são responsáveis pelo vigor e a nova roupagem com que as canções são embaladas. O espectador pode estranhar o título da peça. Inspirado em um texto inglês que condensa todas as peças de Shakespeare em somente 97 minutos, aqui a encenação alcança duas horas de duração. Meia hora a mais para desfrute da obra de um genial artista, cujas letras transbordam poesia e teatralidade.  

(Vinicio Angelici – O endereço de e-mail address está sendo protegido de spambots. Você precisa ativar o JavaScript enabled para vê-lo. )    

(Foto Léo Aversa)

 

Avaliação: Bom

 

Todos os Musicais de Chico Buarque em 90 Minutos

Roteiro e Direção Musical: Cláudio Botelho

Concepção e Direção: Charles Moeller

Elenco: Soraya Ravenle, Cláudio Botelho, Malu Rodrigues e outros.

Estreou: 08 / 08 / 2014

Teatro Cetip (Rua Coropés, 88, Pinheiros. Fone: 4003-5588). Sexta e sábado, 21h; domingo, 18h. Ingressos: R$ 100 e R$ 150. Até 31 de maio.

 

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