EDITOR: Edgar Olimpio de Souza (O endereço de e-mail address está sendo protegido de spambots. Você precisa ativar o JavaScript enabled para vê-lo.

 

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DVD: O Operário

Na tela, sua silhueta anoréxica e a expressão cadavérica impressionam. Ele é um operário em contínuo processo de degradação física e emocional. Um dos atores mais versáteis do cinema internacional, Christian Bale (Batman, o Cavaleiro das Trevas / O Vencedor) perdeu inacreditáveis 28 quilos (um terço de seu peso) para interpretar um personagem que não consegue dormir há um ano e sofre de paranóia constante. Ninguém emagreceu tanto para representar um papel. A maneira visceral com que se entregou ao trabalho e à dieta - uma lata de atum e uma maçã por dia – não chega a ser novidade na carreira deste ator, que costuma imergir na representação com tamanha desenvoltura a ponto de hipnotizar platéias. Nesta desconcertante produção dirigida por Brad Anderson (Próxima Parada: Wonderful), Trevor Reznik trabalha numa fábrica operando um maquinário pesado e de aspecto amedrontador. Como se sente bem isolado, ele vive se deslocando da casa para o trabalho e dali para encontros com uma prostituta (Jennifer Jason Leigh) ou idas a um café no aeroporto, onde trava amizade com uma garçonete, mãe solteira. Uma tentativa, quem sabe, de aplacar seus demônios interiores. No entanto, o pesadelo se acentua quando, no emprego, acaba se envolvendo em um acidente que custa o braço de um colega. Passa então a acreditar que todos estão conspirando para sua demissão. Não bastasse, aparece um homem misterioso que vive perambulando pela fábrica e só ele o vê. Em sua casa, mensagens estranhas, que sinalizam algum tipo de ameaça, são grudadas na geladeira. Sua luta agora não é apenas para se manter empregado, mas livrar-se da loucura progressiva – o relógio, curiosamente, sempre marca o mesmo horário. A ruptura entre a realidade e alucinação é cada vez mais evidente.  

Com tempero noir e expressionista, o filme apóia-se em uma fotografia de tonalidade azulada, iluminação escassa, imagens granuladas e close-ups. São recursos que, somados à atmosfera sombria da fábrica e dos demais ambientes, potencializam a atmosfera de suspense. Ao espectador, cabe reunir as pistas e signos espalhados ao longo do enredo para decifrar o que, de fato, está acontecendo com personagem-título. Uma sequência no parque de diversões e uma cena em que o tal homem misterioso segura um peixe são algumas das chaves importantes. O longa deixa entrever questões como culpa e repressão, fixação materna e paranóia. São temas que revelam influência da obra de Dostoievski. Uma placa onde se lê Crime Castigo surge no brinquedo do trem fantasma. O livro, como se sabe, desfia a história de um sujeito que comete um assassinato e se martiriza pela culpa. A conexão é óbvia com a situação vivida pelo protagonista da película. No fundo, o debilitado e oprimido operário é um modelo de alienação porque não compreende a sua própria condição. Não à toa ele surge em determinado momento lendo O Idiota, outro clássico do escritor russo. Também não erra quem veja na figura esquálida de Trevor e seu esforço em manter a sanidade mental referências ao universo assustador retratado nos quadros do pintor norueguês Edvard Munch. 

(Edgar Olimpio de Souza)

 

Avaliação: Ótimo

 

O Operário

Título Original: The Machinist (Espanha, 2003)

Gênero: Drama/Suspense, 102 min                                                                                                            

Direção: Brad Anderson

Elenco: Christian Bale, Jennifer Jason Leigh, Aitana Sanchez-Gijon e outros

Distribuidora: Paramount                                                                                                                          

 

 

Veja cenas do filme:

 

 

 

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