EDITOR: Edgar Olimpio de Souza (O endereço de e-mail address está sendo protegido de spambots. Você precisa ativar o JavaScript enabled para vê-lo.

 

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Teatro: S´imbora, O Musical - A História de Wilson Simonal

Ele chegou a disputar com Roberto Carlos o título de cantor mais popular do Brasil na década de 1960. De origem pobre, negro, ascendeu na música montado em um talento vocal singular, muita ginga e personalidade afetada. E caiu vertiginosamente no ostracismo artístico, após ser acusado de delatar companheiros durante o regime militar. Material atrativo que rendeu documentário no cinema, livro e agora transposição para o palco. Com muito suingue, carisma e vibração, o espetáculo escancara a polêmica trajetória de Wilson Simonal (1938-2000), em um musical dirigido por Pedro Brício e dramaturgia tecida a quatro mãos por Nelson Motta e Patrícia Andrade.

Sem muita ousadia no enredo ou inovações formais, a montagem divide-se em dois atos e acompanha a trajetória controversa do cantor, alternando episódios da sua vida e interpretação de seus grandes sucessos. Após uma abertura tensa, que desdobra o caso do contador de Simonal, torturado a mando dele, o musical desnuda o percurso do artista até a fama. A segunda parte, levada em tons mais sombrios, é a sua transição da glória para o abismo, ilustrado pela canção Cordão, de Chico Buarque.      

A direção implementa marcações inventivas e imprime ritmo linear à encenação. Brício ignora complexidades e constrói um espetáculo simples e eficiente, que mantém o interesse do espectador do início ao fim. Cenas bem urdidas se destacam no todo. Como a que traz Cássia Raquel, na pele de Sarah Vaughan, entoando The Shadow of Your Smile em dueto com Simonal. Outro exemplo é o do cantor comandando, de forma simultânea, os lendários programas televisivos O Fino da Bossa e Jovem Guarda, na tevê Record. Também merece ênfase o momento em que o protagonista, ao desfiar a canção Carango, se acomoda em uma cadeira e pilota um automóvel conversível projetado em sua direção, num efeito típico de videoclipe musical, em boa solução assinada por Rico e Renato Vilarouca. Na contramão, a sequência em que ele participa de um programa de entrevistas, na extinta Tupi, está descontextualizada.   

O diretor extrai bom rendimento do elenco numeroso. Thelmo Fernandes representa com vigor e descontração Carlos Imperial (1935-1992), produtor musical e apresentador responsável pela descoberta e lançamento artístico de Simonal – ele contribuiu para alavancar sua carreira compondo hits como Mamãe passou açúcar em mim e Nem vem que não tem. No enredo, Imperial assume ainda a função de narrador dos acontecimentos, aproximando o público do palco, o que ele faz com leveza e humor – em algumas passagens, no entanto, suas interferências chegam a prejudicar a fluência da peça.

Ícaro Silva, nome que se consolida no gênero musical pela desenvoltura com que canta e atua, como vimos em Rock’n Rio e Elis, a musical, é uma figura marcante. Apesar de tenor, ele repete o timbre de barítono do artista e incorpora seus trejeitos corporais e o modo de cantar, entremeado por uma fala carregada de gírias. Sua performance escapa da mera imitação. Na sequência que reproduz a antológica exibição de Simonal num Maracanãzinho lotado (1969), quando regeu uma plateia em transe ao som de Meu Limão, Meu Limoeiro, o ator faz o mesmo com o público do teatro.

Composto por treze atores, o elenco de apoio atua satisfatoriamente e evita incorrer na caracterização caricata dos cantores e personalidades que desfilam à vista do espectador. Sem brilho especial, Marina Palha vive a mulher do personagem central e encarna o desafio com dedicação e naturalidade. Joana Penna e Jorge Neto não convencem como Elis Regina e Jair Rodrigues, respectivamente. Já Victor Maia está impagável como Eduardo Araújo. Sua interpretação maneirista, vocalizando sotaque mineiro muito peculiar, garante instantes divertidos. O trio de imperialetes Ariane Souza, Cássia Raquel e Lívia Guerra exibe voz afiada.

A cenografia de Hélio Eichbauer, que recria os ambientes das atrações televisivas daquela época, prima pela funcionalidade e facilita as entradas e saídas do palco. A figurinista Marília Carneiro criou 250 peças que remetem aos modelos que reinavam nos anos 1960 e 1970. O coreógrafo Renato Vieira optou por movimentos simples e uniformes. Um conjunto de oito músicos executa com pompa as partituras. A orquestra é dirigida efusivamente por Alexandre Elias, responsável também pelos arranjos musicais, em parceria com Max de Castro. Tomás Ribas (desenho de luz) e Rose Verçosa (visagismo) desincumbem-se com rigor de suas tarefas.   

A proposta do musical, que emaranha drama e humor, verso e reverso de uma história incomum, não tenta fazer um julgamento moral do artista. A intenção é mostrar o drama de alguém que subiu rapidamente ao céu e despencou para o inferno em poucos anos. Wilson Simonal é a prova de que nem todos os males vem para o bem.  

(Vinicio Angelici – O endereço de e-mail address está sendo protegido de spambots. Você precisa ativar o JavaScript enabled para vê-lo. )  

(Foto Leo Aversa)

 

Avaliação: Bom

 

S’imbora, O Musical – A História de Wilson Simonal

Texto: Nelson Motta e Patrícia Andrade

Direção: Pedro Brício

Direção Musical: Alexandre Elias

Elenco: Ícaro Silva, Thelmo Fernandes, Marina Palha e outros

Estreou: 12/06/2015

Teatro Cetip (Rua Coropés, 88, Pinheiros. Fone: 4003-5588). Quinta a sábado, 21h; domingo, 19h. Ingresso: R$ 50 a R$ 180. Até 26 de julho.

 

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