EDITOR: Edgar Olimpio de Souza (O endereço de e-mail address está sendo protegido de spambots. Você precisa ativar o JavaScript enabled para vê-lo.

 

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Teatro: Nuvem de Lágrimas, o Musical

Estava demorando, mas chegou a vez do musical sertanejo. Aqui, a trama se desenvolve por meio das canções que ficaram conhecidas na voz da dupla sertaneja Chitãozinho e Xororó. O ponto de partida para o texto de Anna Toledo é Orgulho e Preconceito, clássico romântico da escritora inglesa Jane Austen (1775-1817), publicado em 1813, que tem como forte componente a questão da luta de classes. A obra conta a história da família Bennet, composta por um casal e suas cinco filhas. Na época, como todo o patrimônio familiar era herdado pelo filho homem, os Bennet estavam em maus lençóis pois não poderiam transmitir seus bens para as meninas, mas para um parente distante. Razão suficiente para deixar a matriarca desesperada em busca de um casamento para as descendentes. O alvo acaba sendo um vizinho recém-chegado.

Anna substituiu a Inglaterra do início do século 19 pela fictícia zona rural paulista de Santana do Ribeirão e ambientou a ação no início dos anos 1990, período em que a canção de raiz começava a se popularizar. Além disso, reduziu para três o número de filhas. Elizabeth Bennet, a jovem protagonista do romance, virou Bete Borba (Lucy Alves), gerente de uma cooperativa agrícola que alimenta o sonho de deslanchar na carreira musical ao lado da irmã mais velha Jane (Adriana Del Claro). Já nos primeiros minutos, a heroína se desentende com o bem sucedido advogado Darcy (Gabriel Sater), porém, o conflito tem hora para acabar porque, apesar da assimetria social entre ambos, eles irão descobrir a paixão comum pela música e se envolver amorosamente.

O enredo, logo se vê, não tem como principal virtude a profundidade dramática nem se esforça para escapar da previsibilidade. A proposta de entreter sem complicar as coisas é dada logo de cara e o feijão com arroz é servido com sabor. A dupla direção de Tania Nardini, responsável também pelas coreografias, e Luciano Andrey resulta num espetáculo leve e agradável de assistir, conseguindo bom rendimento do elenco de 23 atores, capitaneado pelo casal protagonista, estreante em teatro.

Do programa televisivo The Voice Brasil, celeiro de belas vozes, saltou para o teatro a cantora Julie, vista recentemente no musical Constellation. A segunda a pisar no palco, consagrada em uma das edições da atração da TV Globo, é Lucy Alves, cantora e multi-instrumentista paraibana. Se como atriz sua inexperiência explica o desempenho ainda carente de técnica mais depurada, sua energia, dedicação e espontaneidade em cena compensam. Filho do conceituado músico Almir Sater, o cantor e violeiro Gabriel Sater acumulou passagens por novelas e se lança nos palcos com entusiasmo e disposição. Ele imprime sinceridade ao advogado orgulhoso e cheio de preconceitos.

Rosana Penna, atriz bonita, sofisticada e segura, se transforma numa autêntica caipira, dando credibilidade à mãe da aspirante ao estrelato. Zé Henrique de Paula (Zé Borba) e Blota Filho (Doutor Jardim) defendem seus personagens com carisma à flor da pele e interpretam canções adequadas aos seus timbres vocais. Ao lado de Rosana, formam o triângulo amoroso da história e pontificam em um dos momentos mais pungentes da montagem ao desfiarem Fio de Cabelo, hit de Darci Rossi e Marciano. Intérprete dotada de recursos vocais visíveis, Adriana Del Claro encarna uma graciosa Jane, irmã mais velha de Bete e apaixonada por Carlinhos Jardim, vivido com empenho redobrado por Sérgio Dalcin. Completando o trio de irmãs, Letícia Maneira Zapulla dá vida à irrequieta caçula Lídia, ansiosa por completar a maioridade. Erika Altimeyer exibe rendimento solar e arranca boas risadas da platéia como Caroline Jardim, a espevitada filha do fazendeiro.                              

Tarimbada, a equipe técnica contribui firmemente para o êxito da empreitada. Paulo Correa optou por uma cenografia simples, traduzida por poucos objetos cênicos que são movimentados e criam os ambientes necessários, como a cooperativa agrícola, o escritório do advogado e outros locais. A competente iluminação de Ney Bonfante reforça o clima descontraído da encenação. Os figurinos do experiente Fábio Namatame remetem ao universo caboclo e rústico da trama. A vibrante direção musical, de Carlos Bauzys e Daniel Rocha, celebra variações do gênero sertanejo, como o folk e o country.  Instrumentista de mão cheia, Rocha rege a orquestra de oito músicos, transformando mais de vinte canções do repertório de Chitãozinho e Xororó em preciosidades, casos de Evidências, Nuvem de Lágrimas, Se Deus me ouvisse e No Rancho Fundo. Um musical com sotaque caipira, genuinamente brasileiro e feito com dignidade comovente.

(Vinicio Angelici – O endereço de e-mail address está sendo protegido de spambots. Você precisa ativar o JavaScript enabled para vê-lo. )

(Foto: Roberto Ikeda)

 

Avaliação: Bom 

 

Nuvem de Lágrimas, o Musical

Texto: Anna Toledo

Direção: Tania Nardini e Luciano Andrey

Elenco: Lucy Alves, Gabriel Sater, Rosana Penna, Zé Henrique de Paula, Blota Filho e outros.

Estreou: 05/11/2015

Teatro Bradesco (Rua Palestra Itália, 500, Bourbon Shopping, Perdizes. Fone: 3670-4100). Quinta, 21h; sexta, 21h30; sábado, 17h e 21h; domingo, 19h. Ingresso: R$ 50 a R$ 190. Até 20 de dezembro.

                                                     

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