EDITOR: Edgar Olimpio de Souza (O endereço de e-mail address está sendo protegido de spambots. Você precisa ativar o JavaScript enabled para vê-lo.

 

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Teatro: Milton Nascimento - Nada Será Como Antes

Não há dramaturgia formal, uma história linear com começo, meio e fim. Curiosamente, sequer o nome do homenageado é proferido em cena. Sem intervalos, diálogos ou efeitos especiais, comuns nos musicais da Broadway montados aqui, o espetáculo é alicerçado por números musicais que celebram os setenta anos de vida e meio século de carreira de um dos mais prestigiados artistas brasileiros.

Não é revista nem show, portanto. O modelo de abordar a vida do artista por meio das letras e músicas, cenário e figurinos reproduz o bem-sucedido formato de Beatles - Num Céu de Diamantes, da mesma dupla Charles Moeller (que aqui assina criação e direção) e Cláudio Botelho (roteiro e direção musical). Ou seja, as criações de Milton Nascimento, parte delas em parceria com Fernando Brant, Ronaldo Bastos e Lô Borges, formam o enredo, temperado por uma suave, quase imperceptível, interpretação dramática.   

Vale destacar a duvidosa opção dos encenadores em dividir a obra de Milton Nascimento em estações do ano, que simbolizariam etapas, lembranças e contextos de sua trajetória. As composições são costuradas uma após a outra. Na primavera, músicas ainda de ímpeto juvenil e hálito lírico (Um Girassol da Cor do seu Cabelo / Paisagem da Janela, por exemplo). No verão, canções solares salpicadas de temores difusos (Maria, Maria / Bola de Meia, Bola de Gude). No outono, sons que aludem a certa desesperança (Caçador de Mim / Encontros e Despedidas). No inverno, melodias que emergem das águas turvas do regime militar (San Vicente / Para Lennon e McCartney).

São extratos temáticos com a clara pretensão de desenhar um fio condutor, uma maneira de olhar a profícua obra do artista. Subjetiva e de certa forma arbitrária, a organização musical acaba por oferecer uma leitura reducionista do universo de Milton Nascimento, o que acaba por baratear a riqueza de nuances observadas em seu repertório. Por vezes, há um nítido descompasso entre a mensagem de uma canção e a sua identificação com determinada estação. Em que pese o viés simplificador, e a velocidade com que as músicas são desfiadas, o espetáculo é agradável de acompanhar. Há sequências bem urdidas, como o jogo vocal de abertura animado por sobreposição de várias músicas, a versão em inglês de Canção da América, o tocante coro feminino de Ponta de Areia e o final apoteótico.

No elenco jovem, integrado por artistas talentosos, todos cantam e tocam instrumentos, quase sem pausa entre os números. Eles se apresentam em solos, duplas, coros, com domínio vocal e desempenho naturalmente sensível. Embora a força do conjunto se destaque, individualmente alguns brilham em certos momentos. Casos de Cláudio Lins em Caçador de Mim e Travessia, Cássia Raquel em Caicó, Estrela Blanco e Tatih Kohler em Nuvem Cigana, Marya Bravo em Maria, Maria e Wladimir Pinheiro em Morro Velho. Nesta última canção, por exemplo, percebe-se claramente uma dramatização literal de seus versos, que conta a história de dois meninos (patrão e escravo) que cresceram juntos, na fazenda, e seguiram rumos opostos de vidas.

O sugestivo cenário de Rogério Falcão, espécie de estilização do barroco, lembra uma típica casa mineira, decorada em seu interior com temas pastoris, objetos e móveis que mudam conforme a estação – o trenzinho de madeira no canto do palco é subaproveitado, mas adiciona um tempero mineiro no ambiente. Charles Moeller assina também os figurinos, que usam e abusam do crochê e dos tons envelhecidos. A orquestração e os bonitos arranjos de Délia Fischer, bem como os arranjos vocais de Jules Vandystadt, são pontos altos do espetáculo, que contou com a iluminação matizada do sempre competente Paulo César Medeiros. Trata-se de uma encenação que, se deixa a desejar em dramaturgia, exibe fôlego poético de sobra.     

(Vinicio Angelici – O endereço de e-mail address está sendo protegido de spambots. Você precisa ativar o JavaScript enabled para vê-lo. )

(Foto: Guga Melgar)

 

Avaliação: Bom

 

Milton Nascimento – Nada Será Como Antes, o Musical

Criação e Direção: Charles Moeller

Roteiro e Direção Musical: Cláudio Botelho

Elenco: Claudio Lins, Estrela Blanco, Tatih Kohler e outros.

Estreou: 22/03/2013

Teatro GEO (Rua Coropés, 88, Pinheiros. Fone: 3728-4929). Sexta, 21h30; sábado, 19h e 21h30; domingo, 19h. Ingresso: R$ 100 a R$ 150. Até 26 de maio.

  


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