EDITOR: Edgar Olimpio de Souza (O endereço de e-mail address está sendo protegido de spambots. Você precisa ativar o JavaScript enabled para vê-lo.

 

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Teatro: Eu Te Amo

Eles foram ou se sentem abandonados por seus respectivos parceiros amorosos, estão traumatizados e precisam vestir máscaras para encararem a solidão e amenizarem as suas dores e frustrações. Na trama, que já foi levada ao cinema em 1981 e transformada em peça sete anos depois, ambos os personagens precisam de uma dose de ficção para suportar a realidade. Cineasta de meia idade falido, Paulo acabou de levar um fora da mulher, atriz que o trocou pelo diretor de fotografia enquanto rodava a sua nova produção. Por sua vez, Maria quer se vingar do amante casado, um piloto de avião que a trata com desprezo. Com intuito de fazer sexo casual, os dois marcam um encontro descompromissado pela internet e, embora afogados na solidão, se apresentam como pessoas bem sucedidas, de bem com a vida, sem problemas aparentes. Ou seja, mentem. Nada mais atual num mundo marcado pelas aparências. Na peça do jornalista e cineasta Arnaldo Jabor, o jogo de faz de conta logo se destroça para dar lugar às verdadeiras identidades dos personagens. A atualidade do texto ganha traços visíveis: numa época em que as relações são cada vez mais efêmeras, Paulo e Maria têm medo de amar e recusam o envolvimento emocional. O paradoxo, no entanto, é que parecem fadados a descobrir o amor.

Assinada por Rosane Svartman e Lírio Ferreira, cineastas estreantes na direção teatral, a montagem ilumina esse casal que vai se conhecendo aos poucos, em uma espécie de coreografia do acasalamento. Tudo se passa no interior de uma minguada produtora cinematográfica – há apenas uma cama, uma poltrona e um frigobar. A encenação repaginou o texto e promoveu algumas mudanças, no tocante à profissão dos protagonistas e na forma como estabelecem a comunicação inicial, mas preservou a visão pessimista que o autor mantém da realidade brasileira. Mas o principal investimento foi a tentativa de aproximar o teatro da linguagem cinematográfica. Um recurso, diga-se, que funciona porque afasta qualquer perspectiva de monotonia no desenvolvimento do enredo. A parede ao fundo do palco foi transformada em uma grande tela que projeta as lembranças e os pensamentos do protagonista. São imagens belas que espelham o filme inacabado estrelado pela sua amada (Ana Markun), uma película rodada na praia, em preto e branco. Não há cores no estado depressivo de Paulo. A conexão estética e temática entre as duas linguagens também aflora em outros momentos pontuais. O cineasta volta e meia se vale de uma frase poética extraída de Pickpocket, clássico do cineasta francês Robert Bresson: “que estranhos caminhos tive de percorrer até encontrar você”.      

Com monólogos e diálogos bem construídos, de viés reflexivo e psicanalítico, o espetáculo acompanha com leveza, frescor e ironia esses dois personagens em plenos exercícios de carências e fragilidades. A direção estabelece uma dinâmica que não trava duelo com a matéria prima exposta, fixando marcações simples e funcionais, que valoriza na mesma medida tanto as sequências dramáticas como as de humor explícito. Nas cenas em que os atores se relacionam fisicamente, o bom gosto predomina e não há apelo fácil. Os atores captam e expressam as contradições, os mecanismos de proteção e os impulsos mais exacerbados dos personagens. Alexandre Borges, em composição que destaca a face mais bem humorada de Paulo em detrimento de um registro mais dramático, se sai melhor na função. Juliana Martins, figura sensual e provocante em cena, sente algumas dificuldades em realçar as nuances do papel. Eficiente e charmosa, a montagem desincumbe-se de entreter com um texto que, em mãos pesadas, correria o risco de soar pretensioso e artificial. 

(Edgar Olimpio de Souza – O endereço de e-mail address está sendo protegido de spambots. Você precisa ativar o JavaScript enabled para vê-lo. )                                                                         

(Foto: Marcos Morteira)

 

Avaliação: Bom

Eu Te Amo

Texto: Arnaldo Jabor                                                                                                    

Direção: Rosane Svartman e Lírio Ferreira                                                                    

Elenco: Alexandre Borges e Juliana Martins                                                                 

Estreou: 06/01/2012                                                                                                         

Teatro Folha (Av. Higienópolis, 618, Shopping Pátio Higienópolis. Fone: 3823-2323). Sexta, 21h30; sábado, 20h e 22h; domingo, 20h. Ingresso: R$ 50 a R$ 70. Até 19 de fevereiro.

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