EDITOR: Edgar Olimpio de Souza (O endereço de e-mail address está sendo protegido de spambots. Você precisa ativar o JavaScript enabled para vê-lo.

 

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Cinema: Meia-Noite em Paris

Bêbado e meio perdido pelas ruas de Paris, o roteirista de cinema Gil Pender (Owen Wilson) embarca num misterioso calhambeque que o conduzirá para a fervilhante década de 1920 da capital francesa. Na época, a cidade era point de grandes personalidades expatriadas, como os escritores americanos Scott Fitzgerald e Ernest Hemingway, o músico compatriota Cole Porter e os pintores espanhóis Pablo Picasso e Salvador Dali, entre outros. A nova produção do cineasta americano Woody Allen, que vem obtendo bilheteria surpreendente, se vale de um clichê da ficção científica – a viagem no tempo – para reverenciar o romantismo e a pulsão cultural do lugar. É uma assumida declaração de amor de Allen, que ambientou seus últimos trabalhos em solo europeu, casos de Barcelona (Vicky Cristina Barcelona) e Londres (Match Point, por exemplo). Até então, em longas anteriores do diretor, Paris só havia sido citada ou servido de passagem, como em Todos Dizem Eu Te Amo. Aqui, ele não faz um culto à nostalgia estéril. Nesta deliciosa e envolvente comédia impregnada dos habituais diálogos sofisticados, a cidade é desnudada como uma personagem. Logo as primeiras cenas revelam o fascínio do diretor pela Cidade Luz – um demorado desfile de imagens típicas de cartão postal, com o intuito de fazer o espectador mergulhar na atmosfera do lugar.

É ali que um casal americano vai desembarcar para uma viagem de passeio. Gil é o roteirista de Hollywood que pretende agora se dedicar à literatura, escrevendo um romance mais profundo que seus roteiros cinematográficos. Ele está inebriado pela aura de Paris, imagina-a sob chuva e sonha com a artística boemia francesa dos anos 1920, época de movimentos culturais como o modernismo, o surrealismo e o cubismo. Trata-se de mais um daqueles personagens recorrentes na obra de Allen, deslocado no mundo de hoje, em crise pessoal e disposto a tentar achar um novo sentido para vida. Impaciente, um tanto insensível às artes e pouco disposta a apoiá-lo em sua nova empreitada, sua noiva Inez (Rachel McAdams) parece mais atenta aos detalhes do casamento. Os pais da moça os acompanham e Allen não perde a chance de cutucar com humor ferino o reacionarismo republicano do velho. Da mesma forma que ele satiriza impiedosamente o ex-namorado que Inez encontra casualmente, um falso intelectual que adora ostentar conhecimento sobre os assuntos mais diversos possíveis – ele temuma mulher parva, que se atrapalha com as palavras, e chega a discutir com uma simpática guia de museu, vivida pela primeira-dama francesa Carla Bruni.          

Como a personagem Alice que atravessa um espelho, Gil se deslocará por uma fresta do tempo, quase sempre à meia noite, até a década de ouro parisiense, onde irá interagir com artistas míticos e históricos como a escritora americana Gertrud Stein, a quem mostrará os originais de seu inacabado romance, e o cineasta espanhol Luis Buñuel. O encontro com este genial diretor de cinema renderá uma das cenas mais memoráveis do longa. Gil irá sugerir a ele que rode um filme sobre um grupo de burgueses que, após o jantar, não consegue abandonar a mansão e, aos poucos, vão perdendo o verniz de civilidade – é o argumento do hoje clássico O Anjo Exterminador, que Buñuel lançaria em 1962. Bem articulada, a obra move-se por esses dois núcleos, o real e o fantástico. Essa espécie de portal que permite a fusão entre sonho e realidade remete automaticamente ao longa A Rosa Púrpura do Cairo, filmado por Allen em 1985. Naquela delicada obra, uma garçonete se relacionava com um personagem que saía do filme a que vivia assistindo todas as tardes. Tanto ela como Gil são pessoas que, em graus variados, buscam escapar de uma realidade frustrante. Na casa de Gertrud Stein, Gil irá conhecer uma bela francesa por quem se apaixonará, Adriana (Marion Cottilard), seguidora da estilista Coco Chanel e amante de Pablo Picasso. Ela também nutre obsessão pelo passado parisiense, no caso, a belle époque (1871-1914) dos pintores Toulouse Lautrec e Edgar Degas. Este, por sinal, revela que prefere o Renascimento à época em que vive. A tese central do filme é nítida: o ser humano é permanentemente insatisfeito com o presente e dado a idealizar o que não vivenciou. Allen, sabiamente, evita a amargura e a melancolia ao revolver o assunto. Prefere o registro da comédia elegante para ironizar a crença de que o passado é sempre o melhor período da vida.

(Edgar Olimpio de Souza)                                                                                                    

(Foto Divulgação)

 

Avaliação: Ótimo

 

Meia-Noite em Paris

Título Original: Midnight in Paris (Espanha/ / Estados Unidos, 2011)               

Gênero: Comédia Romântica, 100 min                                                                            

Direção: Woody Allen

Elenco: Rachel McAdams, Owen Wilson, Marion Cottilard e outros

Estreou: 17/06/2011

 

Assista ao trailer do filme:

 

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