EDITOR: Edgar Olimpio de Souza (O endereço de e-mail address está sendo protegido de spambots. Você precisa ativar o JavaScript enabled para vê-lo.

 

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Cinema: O Que os Homens Falam

Ao contrário do que dizem os títulos nacional O Que Os Homens Falam e o original Uma Pistola em Cada Mão desta comédia do cineasta espanhol Cesc Gay, os homens se retraem e nenhum deles porta qualquer arma, mesmo em duplo sentido. Quem fala e dá as cartas são as mulheres que, na meia idade, são engenhosas o bastante para destravar a potência de seus parceiros ou substituí-los por outros bem mais novos. É, portanto uma inversão do clichê: “trocou a de quarenta por duas de vinte”.

Isto porque, neste filme de seis curtas histórias/esquetes, e um pós-entrecho, o diretor troça dos homens pelas vias diretas. Eles apanham sem chiar, pois muitas vezes não podem revelar suas quedas de potência na meia idade. E só se salvam pela argúcia de suas companheiras quarentonas. Este é o tema da quinta e sexta histórias, sendo o que mais justifica esta comédia, que foge aos monólogos woodyalleanos e os escrachos almodovarianos. E nada têm de comédia de costumes.

Na quinta trama, a bela morena (Leonor Watling) dá carona ao amigo dela (Alberto San Juan) e de confidências em confidências, ela desfia sua engenhosidade para redespertar o desejo de seu companheiro. Ela é tanta que ele, ao invés de desconfiar, acha-a engraçada. Ela se vale de um livro de autoajuda, cheio de receitas absurdas para reativar a potência masculina. E, além de ironizar este tipo de obra, ela demonstra sua criatividade e a crise do “macho” e do casamento.

Não menos hilariante é o sexto episódio. Cesc Gay a intercala com o quinto, de forma que eles se completam. Sem receio, a loira fashion (Cayetana Guillien Cuervo) desanda numa falação sobre seus esforços para fazer o companheiro funcionar. É cheia de nuances e criatividade, usando ciência e psicologia feminina. Às vezes funciona, outras não, ela diz. Quem sai arranhado é o homem, com sua incapacidade de entender as imposições do tempo, as mutações do desejo e a necessidade de estimulantes.

Se as citadas histórias são de intimidade conjugal, a quarta é reveladora das relações mulher/homem no trabalho. Cesc Gay foge ao espectro dos quarentões para tratar das relações entre jovens colegas de trabalho. E põe a repórter (Candela Peña) diante de seu colega (Eduardo Noriega). Eles irão se tatear, ela fugindo, ele atacando, ela armando, ele entrando no jogo dela. Até ele cair numa armadilha cruel: a de achar que ela se submeteria ao assédio sexual, pelo charme dele.

Esta rende humor pelo constrangimento dele, ao ser ridicularizado por ela e suas amigas. Numa variação deste tema, o cineasta mostra a dificuldade de o homem aceitar o divórcio. O quarentão (Javier Câmara) assedia a ex (Clara Segura), ao vê-la ainda sexy. Há desejo e orgulho ferido, e, depois, a descoberta de que ela o substituiu, definitivamente, por outro mais jovem.

Cesc Gay expõe, assim, o cotidiano do homem moderno, e não só o quarentão, e o leva a pensar. As antigas investidas e abusos dos machões (Como Conquistar as Mulheres, 1966) perderam o sentido. Ele está frágil e inseguro, como se vê na segunda trama. Enquanto espreita a companheira deixar o condomínio, onde está há tempo, o cinquentão (Ricardo Darín) maquina a decisão a tomar. Sua maneira de reagir à perda é, ao invés de ódio, indagar o porquê daquilo acontecer.

Não é mais o rompante do macho ferido, cheio de ameaças e jurando vingança. Houve razão para ela preferir outro. É inventiva a maneira como o diretor estrutura esta história. Ela vai se movendo, circularmente, em diálogos despretensiosos, até o espectador entrar numa vereda em que o caçador e o algoz (Luís Tosar) dialogam, sem esbravejar um com o outro. Ele, por amá-la, acha que tudo vai bem, ela, porém, enfastiou-se. O amor se esfumou.

Entretanto, Cesc Gay não se interessa apenas pelos impasses sexuais da meia idade. Ele mostra outras vertentes, como a dos amigos que se reencontram. O jornalista desempregado (Eduard Fernández) e o cartunista (Leonardo Sbaraglia) se rodeiam em rememorações de entes queridos perdidos, filhos e trabalho sem tocar no que realmente os incomoda. Estão presos ao passado e acham o presente insatisfatório. Percebe-se isto pela maneira como se separam, demonstrando cansaço.

O que se apreende desta comédia é a maneira positivas como as mulheres tratam seus relacionamentos conjugais, o modo se referem aos seus companheiros. Inexiste apego ao tabu sexual, às questões proibidas, elas se dispõem a ajudá-los no limite, inclusive buscam alternativas. Eles, certamente, ainda não entenderam as mudanças e a urgência de aceitar as mutações do tempo e suas fragilidades. Mal algum há em desnudá-las para elas, que por si mesmas, como mulheres, percebem e entendem, enquanto eles tentam camuflar. Nada mais falacioso, a relação conjugal não é apenas desejo e potência, existem outras complexidades.

(Cloves Geraldo, do site Vermelho)

(Foto Divulgação)

 

O Que Os Homens Falam

Título Original: Uma Pistola Em Cada Mano (Espanha, 2012)

Gênero: Drama, 95 minutos

Diretor: Cesc Gay

Elenco: Javier Câmara, Jordi Molla, Alberto San Juan, Ricardo Darin e outros.

Estreou: 22/05/2014

 

Veja o trailer do filme:

 

 

 

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