EDITOR: Edgar Olimpio de Souza (O endereço de e-mail address está sendo protegido de spambots. Você precisa ativar o JavaScript enabled para vê-lo.

 

  • Font size:
  • Decrease
  • Reset
  • Increase

Teatro: A Família Addams (RJ)

Os membros da família Addams moram em um casarão com explosivos, plantas carnívoras e animais de estimação, como uma aranha, além de abrigarem uma mão sem corpo que vive dentro de uma caixa (Mãozinha). Trata-se de um núcleo familiar, como se vê, tão cômico quanto sinistro. Escorada num tipo de humor irônico e mórbido, a obra do lendário cartunista Charles Addams (1912-1988) fez tanto sucesso que extrapolou os limites do papel, virou série televisiva (1964), desenho animado (1973), filme (1991, com continuações em 1993 e 1998) e ganhou os palcos na Broadway (2010). Assinada por Cláudio Botelho, a primeira versão nacional do texto de Marshall Brickman e Rick Elice, com música e letras de Andrew Lippa, é uma produção  sofisticada e envolvente. Marisa Orth, na pele de uma mulher de visual exótico (Mortícia), e Daniel Boaventura, intérprete de um advogado endinheirado (Gomez) que adora explodir trens de brinquedo e atirar facas, capitaneiam um elenco de 27 atores e doze instrumentistas. Eles são pais de duas crianças, Wandinha e Feioso, que têm o estranho hábito de brincar de assassinato e manipular objetos nada ortodoxos. Tio Féster, irmão de Gomez, especialista em assuntos tétricos, a vovó-bruxa e um mordomo gigante de poucas palavras completam esse conjunto pouco convencional.                            

O espetáculo equilibra elementos pontuais de um grande musical: diversão, trilha sonora sedutora, enredo interessante, cenários majestosos e figurinos curiosos. Cativante e bem humorada, a história trata de temas como amor, fidelidade e tolerância às diferenças. Conta como os Addams entram em parafuso quando a filha adolescente Wandinha quer aproveitar um jantar para apresentar aos pais o seu namorado, sujeito fora dos padrões estéticos da família, mote para sequências literalmente hilárias. Dona de carisma natural e físico adequado, Marisa Orth destrava a veia cômica para compor uma Mortícia bem convincente, que aparece pálida como um vampiro, de cabelos escorridos e longos vestidos negros.  Com charme, elegância e naturalidade, Daniel Boaventura está impagável como Gomez, sem receio de beirar a caricatura. A talentosa Laura Lobo, de apenas 18 anos e já uma veterana de musicais, exibe ótima voz e chega a roubar cenas como a alva Wandinha, que curte torturar o irmão caçula. Cláudio Galvan arranca gargalhadas como Tio Féster, figura de olheiras vistosas, sempre metido em um casaco comprido até os pés, que no momento anda apaixonado pela lua. A veterana Iná de Carvalho revela habilidade na composição de uma avó amalucada que gosta de preparar poções mirabolantes, besouros empanados e miolos de morcegos fritos. Nicholas Torres demonstra talento ao interpretar o garoto Feioso, um traquina que sente especial prazer em ser torturado e servir de cobaia para as maldades de sua irmã. Rogério Guedes esbanja categoria no desempenho do mordomo prestativo, porém desastrado. Seu jeito devagar e automatizado de andar é inconfundível.                                                                                                                        

Cabe destacar também a família Beineke, cujo filho Lucas, interpretado com desenvoltura por Beto Sargentelli, é candidato a ser mais um integrante dos esquisitos Addams. O bom Wellington Nogueira dá vida ao pai dele e Paula Capovilla, a mãe, desata uma interpretação de tirar o fôlego. A cena do temido jantar na pitoresca mansão, por sinal, é das mais importantes e seduz o público pela comicidade leve e imprevistos de toda ordem – ao ingerir poção mágica, por exemplo, um dos presentes detona revelações que irão conturbar o ambiente e gerar uma série de situações engraçadas. Os cenários grandiosos e figurinos sugestivos foram criados por Julian Crouch e Phelim McDermott. A inspirada coreografia de Sérgio Trujillo teve a colaboração da diretora e coreógrafa residente Fernanda Chamma. A orquestra é regida com sobras de competência por Vânia Pajares, também diretora musical residente. Angelina Avallone desenhou maquiagens que evidenciam as expressões caricatas dos personagens. O diretor Jerry Zaks cortou algumas passagens desnecessárias, o que propiciou não só mais agilidade à montagem como fez desenvolver o enredo num tempo adequado. Espetáculo delicioso, cheio de vigor e jogos cênicos, mais uma iguaria no cesto brasileiro de musicais.                                                                                                        

(Vinicio Angelici - O endereço de e-mail address está sendo protegido de spambots. Você precisa ativar o JavaScript enabled para vê-lo. )                                                                           

(Foto: João Caldas)                                                                                                               

 

Avaliação: Ótimo

 

A Família Addams

Texto: Marshall Brickman e Rick Elice                                                                               

Música e Letras: Andrew Lippa                                                                                    

Direção Cênica: Jerry Zaks                                                                                            

Direção Musical: Mary-Mitchell Campbell                                                                      

Elenco: Marisa Orth, Daniel Boaventura, Nicholas Torres e outros.                              

Estreou: 02/03/2012                                                                                                          

Teatro Vivo Rio (Avenida Infante Henrique, 85, Aterro do Flamengo. Fone: 21. 2272-2900). Quinta e sexta, 21h; sábado, 16h30 e 21h; domingo, 15h30 e 20h. Ingresso: R$ 50 a R$ 230. Até 07 de abril.

 

Veja cenas do musical:

 


 

 

Comente este artigo!

Modo de visualização:

Style Sitting

Fonts

Layouts

Direction

Template Widths

px  %

px  %