EDITOR: Edgar Olimpio de Souza (O endereço de e-mail address está sendo protegido de spambots. Você precisa ativar o JavaScript enabled para vê-lo.

 

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Teatro: E Foram Quase Felizes para Sempre...(RJ)

Quem pensou que o título brinca com os desfechos dos contos de fadas acertou. Pode-se dizer que o texto escrito e interpretado por Heloisa Périssé é uma dessas histórias que terminam com alguma lição de vida e uma moral implícita em torno dos relacionamentos entre homem e mulher. Nada profundo e, de certa forma, meio previsível. O espetáculo dirigido por Susana Garcia não finge originalidade nem promete maestria na construção do enredo e dos personagens. Trata-se de um trabalho convencional, sem outro compromisso a não ser o de entreter o público, missão que cumpre com esmero e empenho.

Na trama, a atriz encarna a escritora workaholic Letícia Amado que, na noite de autógrafos de seu livro, entra em parafuso. Afinal, encontra-se recém-separada e, coincidência, Cantinho pra Dois dá dicas justamente de alguns recantos inesquecíveis do mundo para conhecer ao lado de seu amor, especialmente se o casal estiver em lua de mel. Para desenvolver o projeto, ela passou muitos meses viajando, sob protestos do marido que não via necessidade de tanta dedicação assim. Por conta disso, acabou descartada pelo companheiro.  

Sua conturbada relação com Paulo Vítor será desfiada para os espectadores, que assumem o papel de convidados do evento literário. É uma novela de encontros e desencontros com uma pessoa de hábitos diferentes, outro ritmo de vida e personalidade antagônica. O texto não chega a propor uma reflexão genuína sobre o casamento entre uma mulher profissionalmente independente, e energia a mil, e um homem que leva a vida com uma tranqüilidade exasperante. Tem frescor, frisa-se, embora sem o sabor de novidade. As brigas, discussões e queixas são embaladas em clichês e ganham o tempero daquele tipo de humor que caracteriza o stand-up e suas observações peculiares do cotidiano.

O que dá um molho especial ao prato oferecido são o carisma e magnetismo da atriz, que consegue instaurar uma espécie de cumplicidade com a platéia, que se diverte com as variadas situações rememoradas. Em segundos, Périssé se desdobra em catorze personagens – tipos, melhor dizendo -, num trabalho eficiente de composição física e vocal. Entre as figuras que corporifica no palco, destacam-se a amiga sincera Celeste, o ex-marido de fala mansa, uma prostituta conselheira que conhece em Amsterdã, a irrequieta psicóloga, cuja maneira de se expressar levando o cigarro à boca parece emular a escritora Clarice Lispector, e, claro, a mortificada Letícia. Criações que propiciam passear por sentimentos, emoções e trejeitos que, em mãos menos hábeis, soariam demais estereotipadas. Sua interpretação é solar e de amplo domínio do tempo de comédia.

A fluência da montagem é consolidada pela direção de Susana Garcia, que concebeu marcações simples e funcionais. Tudo franco e sem penduricalhos. O espetáculo desliza com leveza e desembaraço e contorna até momentos menos inspirados da peça, como as cenas em que a psicóloga surge apenas para provocar riso fácil. A produção é bem cuidada e dispõe de uma equipe técnica de primeira linha. Miguel Pinto Guimarães elaborou um cenário com banco, cadeira e retângulos que servem para desenhar ambientes como uma pista de dança, livraria ou consultório de terapia. Assinado por Reka Koves, o figurino é de bom gosto e discreto. A iluminação de Maneco Quinderé e a trilha sonora de Alexandre Elias têm sintonia com a proposta singela e interativa da montagem. Escorado na comunicação direta com o público, o espetáculo proporciona uma leitura bem humorada, sem veleidades intelectuais, do casamento nos tempos de hoje e as idiossincrasias da vida.  

(Vinicio Angelici – O endereço de e-mail address está sendo protegido de spambots. Você precisa ativar o JavaScript enabled para vê-lo.

(Foto Guga Melgar)

 

Avaliação: Bom

 

E Foram Quase Felizes para Sempre...

Texto e Interpretação: Heloisa Périssé

Direção: Susana Garcia

Estreou: 01/05/2015

Teatro Clara Nunes (Rua Marquês de São Vicente, 52, Shopping da Gávea. Fone: 21. 4003-2330). Quinta a sábado, 21h30; domingo, 19h. Ingressos: R$ 80. Até 29 de agosto.

 

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