EDITOR: Edgar Olimpio de Souza (O endereço de e-mail address está sendo protegido de spambots. Você precisa ativar o JavaScript enabled para vê-lo.

 

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Circo: Varekai e a receita do sucesso (RJ)

Até acreditei que, nesta terceira vinda do Cirque du Soleil ao Brasil, poderia guardar minha opinião na gaveta. Hoje, pouco importa as avaliações, já está tudo lotado até o fim da temporada, o que garante o negócio e afasta de vez a possibilidade de pensar sobre o significado da obra. Porém, o convite para escrever aqui sobre Varekai abriu a chance para mais uma breve reflexão. A presença desta megaempresa de entretenimento traz consigo visibilidade à atividade circense como um todo. No entanto, o imediatismo com que são tratadas as atrações internacionais, cujos ingressos são bastante caros, somado ao provincianismo da imprensa, evidenciam o clima de festa preparada para ver a roupa nova do rei. O problema não reside no fato de ser um empreendimento de grande vulto, mas na opção que sua estética superficial anda disseminando. Quando se acredita que a renovação está no apelo do negócio e não em seu sentido poético para o público, ela sucumbe aos ditames daqueles que buscam o monopólio da imaginação.

Sem dúvida, é o espetáculo mais circense dos que já estiveram por aqui e o de melhor qualidade. Acessível em DVD já há bom tempo, mostra que sofreu variações na versão atual. Porém, este não sofre da mesma síndrome que contaminava os trabalhos anteriores que visitaram o Brasil, que incluíam uma narrativa que nunca se cumpria. Mais que um tema, o clima cigano do título permite-lhe uma amarra que envolve o espectador sensorialmente e cumpre sua missão de entreter. Tanto Varekai (2002) quanto Saltimbanco (1992), Alegria (1994) e Quidam (1996) são de uma safra antiga, cuja maior dificuldade de comunicação se dá pela trilha sonora, ainda apegada aos clichês new age da década de 1990, repetitivos e sem o impacto emocional que os números exigem. Exceção feita ao número final, de maca-russa, onde a música é eficiente.

Dentro da tradição circense é comum abrigar artistas de várias partes do mundo. Em sua expansão, o Cirque du Soleil fez o mesmo, com audições que buscam talentos em todas as partes do planeta. Infelizmente, não se trata de uma visão estética internacionalista desejando um mundo sem fronteiras, mas uma característica de um empreendimento capitalista que reflete uma economia globalizada. Artistas brasileiros são solicitados, devido tanto à qualidade técnica quanto por sua expressividade, fruto de uma cultura corporal viva e contínua. A produção circense do País não tem condições de competir com os valores do mercado internacional e esta companhia nascida no Canadá (1984) acaba levando alguns de nossos melhores talentos. O Brasil se torna um exportador e o público brasileiro não chega a conhecer seus grandes artistas de circo. Alguns se destacaram, como é o caso do palhaço Cláudio Carneiro. Ele estreou em Varekai e os números de palhaço, hoje interpretados por um palhaço australiano, são criações dele. Assim como russo Slava, sua obra é reconhecida dentro da megaestrutura do Soleil, mas a imprensa brasileira desconhece este fato e pouco deu atenção aos criativos números que tem divertido plateias do mundo inteiro.

Continuaremos a aplaudir o conteúdo embalado pela indústria sem ver o quanto o nosso artesanato foi importante nesta receita de sucesso.

(Hugo Possolo, 49, palhaço, dramaturgo e diretor dos Parlapatões e do Circo Roda. Autor do livro Palhaço-Bomba)

(Foto: Belinda Pratten)

 

Anote aí:

Cirque Du Soleil                                                                                                                 

Criação e direção: Dominic Champagne                                                                          

Marina da Glória (Avenida Infante Dom Henrique, s/n). Quinta a domingo, 21h; sábado, 17h e 21h; domingo, 16h e 20h. Ingresso: R$ 140 a R$ 560. De 8 a 23 de dezembro.

 

Veja cenas do espetáculo:

 

 

 

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