EDITOR: Edgar Olimpio de Souza (O endereço de e-mail address está sendo protegido de spambots. Você precisa ativar o JavaScript enabled para vê-lo.

 

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Teatro: Gabriela, um Musical

O embate entre uma tradição que insiste em permanecer de pé e o novo que chega para derrubá-la e instaurar outros valores está na essência desse belo musical, dirigido por João Falcão, inspirado no livro do escritor baiano Jorge Amado. Uma das obras fundamentais de sua carreira, o romance Gabriela, Cravo e Canela (1958) simbolizou um marco na sua produção literária e lhe rendeu os prestigiados prêmios Jabuti e Machado de Assis. A partir dessa novela, o autor passou a ressaltar as figuras femininas, os velhos coronéis nordestinos e demais tipos populares. A sensual Gabriela, que alvoroça toda uma cidade pacata, ganhou versão cinematográfica e ilustrou três telenovelas de sucesso. Agora, o caso de amor entre a retirante Gabriela e o sírio Nacib, ambientada nos anos 1920 em uma Bahia em ebulição, migrou para o palco. Falcão assinou a adaptação e o roteiro musical, embaralhando canções de diferentes épocas e estilos. A maior parte delas se integra de forma orgânica à dramaturgia e parecem ter sido compostas originalmente para a peça.

Para dar vida a essa crônica de costumes localizada em uma provinciana Ilhéus, o diretor reuniu um elenco homogêneo de 21 atores, que canta e representa bem. A escolha de Daniela Blois, que derrotou outras setecentas candidatas, para o papel eternizado por Sônia Braga na televisão e no cinema, foi um achado. Além de bonita, a médica que canta na noite de Manaus e estreia como atriz exibe harmonioso timbre vocal e transpira espontaneidade e brejeirice. Ela empresta ao personagem central, que chega ao interior baiano fugida de uma terrível seca no agreste, doses de sensualidade, encanto e espírito livre. Danilo Dal Farra, com porte atlético e voz melodiosa, encarna um Nacib cativante e simpático. Trata-se de um próspero comerciante sírio que comanda o bar Vesúvio, encontra Gabriela no mercado de escravos e a leva para trabalhar em seu estabelecimento.

O velho Tuísca, interpretado por Maurício Tizumba, oferece bons momentos como o bem humorado narrador e integrante da trama – ele seria o próprio Amado em cena. Léo Bahia desenhou um carismático Professor Josué, apaixonado por uma aluna, mas que se envolve com a fogosa e desejada Glória, a moça que não sai da janela, vivida com vigor e energia por Juliana Linhares. Ambos são responsáveis por um dos pontos altos do espetáculo ao desfiarem Sem Fantasia, de Chico Buarque. Os atores Almério (Quinquina) e Vinicius Teixeira (Florzinha) estão hilários como fofoqueiros de plantão. Luciano Andrey mostra segurança e versatilidade na dupla função de Coronel Melk Tavares e do pai de Osmundo, o dentista assassinado.

A cenografia impalpável de Falcão e Simone Mina se ampara em armações de metal e esteiras rolantes, que projetam delicado movimento à ação e parecem levar o público para dentro dela. O cenário se soma à eficiente iluminação de Cesar de Ramires e criam todas as ambientações exigidas pelo enredo. Os figurinos de Simone Mina remetem à década de 1920, com destaque para os panos e cores dos retirantes e para os trajes sem apelação das prostitutas do Bataclan. As quase trinta canções são executadas por uma banda de cinco músicos, com direção musical de Tó Brandileone. Ele tramou envolventes arranjos para a eclética trilha sonora, um caldeirão de ritmos brasileiros que mistura clássicos de Dorival Caymmi (Vatapá), Tom Jobim (Tema de Amor de Gabriela) e Milton Nascimento (Cais) a hits de Arnaldo Antunes (Volte para o seu lar), Marisa Monte (Vilarejo) e Skank (Garota Nacional).

Falcão conseguiu arquitetar um musical brasileiro delicioso, que passeia por temas como o machismo, o jeitinho brasileiro, a opressão da mulher e a emancipação feminina. A montagem é reverente ao romance original e preserva o pano de fundo da história, traduzido pelas transformações políticas, culturais e econômicas da época, como o declínio dos coronéis – um tipo igual ao de Ramiro Bastos (papel de Frederico Demarca) desaparece lentamente e em seu lugar emerge um novo perfil de empresário, personificado por Mundinho Falcão (Marcel Octávio). Uma montagem bastante teatral, que representa um reforço considerável na tentativa de se criar musicais made in Brazil.

(Vinicio Angelici – O endereço de e-mail address está sendo protegido de spambots. Você precisa ativar o JavaScript enabled para vê-lo. )  

(Foto Divulgação)

 

Avaliação: Ótimo

 

Gabriela, um Musical

Texto: Jorge Amado

Direção: João Falcão

Elenco: Daniela Blois, Danilo Dal Farra, Léo Bahia e outros.

Estreou: 02/06/2016

Teatro Cetip (Rua dos Coropés, 88, Pinheiros. Fone: 4003-5588). Quinta e sexta, 21h; sábado, 17h e 21h; domingo, 16h e 20h. Ingresso: R$ 60 a R$ 190. Até 7 de agosto.

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