EDITOR: Edgar Olimpio de Souza (O endereço de e-mail address está sendo protegido de spambots. Você precisa ativar o JavaScript enabled para vê-lo.

 

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Cinema: O Discurso do Rei

Num filme que tem como ponto de partida um problema de comunicação que acomete o protagonista, é curioso que extraia interesse justamente do diálogo entre os dois personagens centrais. Ou seja, quanto mais a fala é travada, mais envolvente se torna esta relação. Recordista de indicações ao Oscar deste ano, o longa de Tom Hooper desembrulha a história do rei George VI às vésperas da Segunda Guerra Mundial, um momento embaraçoso na história inglesa do século passado. Em desempenho comovente, de desenho minucioso e sem escorregar na caricatura, Colin Firth interpreta o Duque de York, que se vê obrigado a assumir o trono da Inglaterra depois que o irmão, primeiro na linha sucessória do rei George V, abdicou da vaga ao preferir se casar com uma americana divorciada sem sangue azul. Não seria um grande desafio não fosse o fato de ele ser gago desde a infância e sentir constrangimento a todo instante que tenta falar e interrompe as frases no meio – na intimidade familiar, no entanto, a comunicação flui de forma quase natural. Mesmo renomados médicos não conseguiram amenizar a sua gagueira e um deles chegou a tratá-lo pedindo que enchesse a boca de bolinhas de gude. Com a massificação dos discursos pelas rádios, o principal veículo de comunicação da época, o domínio das palavras era vital. Poucos estariam dispostos a ignorar essa falha do líder. A tensa cena inicial é emblemática de como rígidas etiquetas comportamentais deviam ser seguidas pela nobreza, sob pena de abalar a confiança da população. Cabia a George VI fazer pronunciamentos à nação para acalmá-la diante da iminência do conflito armado. A pressão era tamanha que o soberano perdia o temperamento tranqüilo e percebia-se transtornado.  

A situação revira quando a sua mulher, a delicada Elizabeth (Helena Bonham Carter), descobre um nada ortodoxo professor de dicção australiano, Lionel Logue (Geoffrey Rush). Sem diploma para exercer a atividade, é um ator fracassado que tem tanto interesse pelo ofício quanto pelo dramaturgo Shakespeare. É capaz de, durante as sessões para corrigir os distúrbios da fala do novo rei, recorrer a uma frase famosa da peça Hamlet como método de treinamento. E é atrevido o bastante para romper pompa e protocolos, exigindo tratamento igualitário. O longa se vale do relacionamento conturbado que se desenvolve entre ambos para fisgar o espectador. Eles se atraem e se repelem, são tolerantes e impertinentes, perdem a compostura e se recompõem. O que se estabelece é uma típica luta de classes, contrapondo rico e pobre, mestre e aluno. Há um momento em que, despido de sua couraça protetora, George VI retoma o passado e deixa entrever que traumas familiares podem servir de explicação para a sua gagueira. A trama, que mostra figuras relevantes como Winston Churchill e uma ainda jovem Elizabeth, exclui a política do foco. Tanto que tangencia a controversa simpatia da monarquia britânica e do governo do primeiro ministro ao nazismo, inicialmente visto como aliado contra o perigo comunista. A visão que traz da nobreza está longe do tom cáustico transpirado, por exemplo, pelo filme A Rainha.  O diretor opta por injetar doses de humor que contribuem para dar leveza e fluidez ao drama. A intenção não foi a de celebrar um personagem histórico, mas sublinhar a importância de um anônimo que, esquecido pela história, foi essencial para a coroa inglesa. (Edgar Olimpio de Souza)

 

Avaliação: Bom



O Discurso do Rei                                                                                                                     

Título Original: The King´s Speech (Reino Unido/Austrália, 2010)                               

Gênero: Drama, 118 min

Direção: Tom Hooper

Elenco: Colin Firth, Geoffrey Rush, Helena Bonham Carter

Estreou: 11/02/2011

 

Assista ao trailer:

 

 

 

 

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