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O Mágico

Em 1959 o tradicional show de variedades estava entrando em colapso e, aos poucos, os seus artistas eram postos para escanteio. A televisão tornava-se um veículo cada vez mais influente e o rock ascendia, estrelado por cantores que imitavam Beatles e Rolling Stones do início da carreira. O personagem-título deste envolvente longa de animação é um desses artistas marginalizados, que se vê obrigado a se apresentar em locais decadentes para sobreviver. Sylvain Chomet (As Bicicletas de Belleville) assina este trabalho, a partir de um roteiro do diretor francês Jacques Tatit (1907-1982) que nunca foi filmado. O que se sabe é que ele, espécie de Charles Chaplin do cinema francês, teve uma filha que nunca reconheceu com uma dançarina de music-hall e, prestes a morrer, teria enviado a história em formato de carta para a menina. Ou seja, foi uma tentativa tardia de reatar os laços com a filha. Com atmosfera melancólica e poética, a animação desfia a trama deste velho mágico, Tatischeff (sobrenome real do cineasta), curiosamente desenhado com traços, trejeitos, postura e roupas de Monsieur Hulot, o desconjuntado personagem-símbolo de Tati (Meu Tio / As Férias do Sr. Hulot). Num show em um pub de um vilarejo escocês ele conhece a jovem e ingênua faxineira Alice. Deslumbrada com os números de ilusionismo, a sonhadora órfã o adota como pai e decide acompanhá-lo à capital Edimburgo onde, ele acredita, poderá encontrar um público que ainda aprecie truques de coelho dentro da cartola. Não à toa o nome dela é Alice, que remete automaticamente à menina que mergulha no País das Maravilhas. Ambos irão se hospedar em um hotel ocupado por tipos circenses também relegados pelos novos tempos. Um animado trio de acrobatas, um ventríloquo que mais adiante terá de se desfazer de seu boneco para pagar o aluguel, um palhaço entristecido. O retrato é amargo e pungente. Para sobreviver, e às escondidas da garota, o mágico terá de fazer bicos num estacionamento e exibir-se em vitrines de lojas de departamento.

De visual impressionante, que lembra pinturas, o desenho feito à mão contrasta com a computação gráfica e a tecnologia 3D das animações atuais. A produção tem colhido prêmios e elogios por conta de seu roteiro sem diálogos, narrativa lenta e enredo emocionante. É interessante como o diretor consegue impregnar o longa com os mesmos temperos observados no cinema de Tati, marcado pelo desencanto diante de um mundo que não entende e humor satírico. Apesar de todos os revezes, o mágico nunca perde a elegância e a pose. É uma figura comovente. Uma das cenas mais belas acontece quando ele entra numa sala de cinema e a tela projeta o filme Meu Tio. Obra simples e singela, calçada no choque entre o arcaico e o novo, a rebeldia e a tradição. Chomet nunca escorrega para o panfletário ou denuncismo. Expõe os embates para ilustrar que a arte, perigosamente, está se deixando ou se deixou contaminar pelo consumismo. Tati era, além de um talentoso cineasta que dispensava palavras, um visionário.

(Edgar Olimpio de Souza)

 

Avaliação: Ótimo

 

O Mágico

Titulo Original: L'illusionniste (França, 2010)

Gênero: Animação, 90 min

Direção: Sylvain Chomet                                                                                                                     

Distribuidora: Playarte Pictures

 

Assista ao trailer do filme:

 

 

 

 

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