EDITOR: Edgar Olimpio de Souza (O endereço de e-mail address está sendo protegido de spambots. Você precisa ativar o JavaScript enabled para vê-lo.

 

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Cinema: Custódia

Estreou nos cinemas brasileiros o forte candidato da França para concorrer ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro do ano que vem, segundo apontam diversos críticos. Trata-se da estreia em longa-metragem do cineasta Xavier Legrand, que nos surpreende com a maturidade de sua direção de atores nesse drama poderoso, entremeado a uma tensa atmosfera de suspense. Xavier ganhou o Leão de Prata (Melhor Diretor) no Festival de Veneza por esse filme, que também concorreu em outros festivais de renome como San Sebastián (Espanha) e RiverRun International Film Festival, nos Estados Unidos.

O filme conta a história de um casal separado que disputa judicialmente a custódia do filho mais novo; já que a filha mais velha, com dezoito anos, é livre para escolher viver com o pai ou com a mãe, ficando fora da disputa. Na cena inicial, durante audiência de conciliação diante da juíza, ouvimos os argumentos dos dois lados.

O lado materno argumenta sobre o descontrole emocional do pai, que espreita a antiga residência e segue os passos dos filhos e da ex-mulher, demonstrando que não aceita a separação e é capaz de tudo para restituir a união familiar. No passado, episódios de violência contra a mulher e a filha engatilharam o pedido de divórcio.

Por outro lado, a advogada do pai ressalta que seu comportamento abusivo só foi motivado diante das negativas da mãe para que ele visse os filhos regularmente, e que afastar os filhos do pai não auxiliaria em nada o já traumático processo de separação.

O espectador oscila entre os dois lados, uma vez que o fato de ambos os filhos se negarem a ver o pai poderia refletir um caso típico de alienação parental, na qual a mãe poderia estar manipulando a psique dos filhos com informações falsas ou exageradas, demonizando a figura paterna para obter a custódia integral em ato de vingança contra o marido – embora sua extrema fragilidade possa indicar o contrário.

Assim, somos jogados dentro desse turbilhão emocional, sem sabermos, ainda, onde repousa a verdade. Pouco a pouco, o filme desvela o desespero do pai, que instaura um estado permanente de tensão no qual, a qualquer momento, a violência pode eclodir. Nem mesmo a mudança da mãe e dos filhos para novo endereço, sem comunicar a justiça, pôde neutralizar suas tentativas de domínio.

Embora a narrativa não traga grandes surpresas, o que chama a atenção é a naturalidade do drama que perpassa essas vidas. Podemos sentir na pele o terror estampado nos olhos dos filhos e da mãe, que entraram nesses personagens, a ponto de nos fazer esquecer que estamos assistindo a um filme.

Justamente, essa é a marca das grandes interpretações. E da mesma forma com o personagem do pai, que se coloca a todo tempo a um milímetro da explosão. No decorrer do filme, os tons de suspense vão ganhando contornos mais nítidos à medida em que o clímax se aproxima, o que fica claro na iluminação mais escura e sombria que vai tomando conta dos quadros.

No final das contas, o verdadeiro terror reside nas coisas reais, nas histórias que se repetem exaustivamente no cotidiano, aquelas que já vivemos ou conhecemos de perto alguém que as tenha vivido.

A factibilidade dessa narrativa nos sensibiliza para os perigos de uma relação abusiva ao escancarar o pesadelo da violência doméstica, que encerra segredos entre quatro paredes, sem ignorar as sequelas comportamentais imputadas aos filhos, reféns de um espetáculo macabro que nunca pagariam para assistir.

Fernando Ramos (site Diário do Centro do Mundo)

Foto Divulgação

 

Custódia

Título Original: Jusq´à la Garde (França, 2017)

Gênero: Drama, 93 min

Direção: Xavier Legrand

Elenco: Denis Ménochet, Léa Drucker e Thomas Gioria, entre outros.

Estreou: 06/07/2018

 

Veja trailer do filme:

 

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