EDITOR: Edgar Olimpio de Souza (O endereço de e-mail address está sendo protegido de spambots. Você precisa ativar o JavaScript enabled para vê-lo.

 

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La La Land - Cantando Estações

O longo plano-sequência de abertura é prodigioso. Há um engarrafamento monstruoso em uma auto-estrada em Los Angeles, a conhecida Century Freeway. Enfileirados, quase todos os carros são pilotados por um único motorista, cada um ouvindo um tipo de música. De repente, alguém sai cantando, outro faz o mesmo, um terceiro repete o gesto e então todos deixam seus respectivos automóveis e transformam o local em uma eletrizante construção musical. Lembra flash mob, aquelas concentrações instantâneas de pessoas que executam alguma ação súbita combinada de antemão. Todo esse enérgico e tecnicamente irrepreensível momento é capturado pela sinuosa câmera de Damien Chazelle (Whiplash-Em Busca da Perfeição), o roteirista e diretor deste multilaureado filme, que conquistou sete prêmios no Globo de Ouro. Como o espectador irá observar no decorrer da narrativa, o jovem cineasta de 31 anos sabe como transitar suavemente das cenas convencionais para as musicais. Ele transfigura cenários naturais em quadros de faz-de-conta, revitalizando o que muitos julgariam clichês.

Genuíno, bem humorado, extravagante e de veia nostálgica, o longa se propõe a uma releitura contemporânea da linguagem dos grandes musicais, especialmente os das décadas de 1940 e 1950, como Cantando na Chuva e Os Guarda-Chuvas do Amor, além de produções capitaneadas pelos míticos Fred Astaire e Ginger Rogers. Capaz de seduzir públicos variados, a obra é impulsionada por belas e espirituosas canções, acrescida de esfuziantes e charmosos números de dança. Outro trunfo são as referências ao universo cinematográfico que pontuam o script. A parede inteira do quarto de uma personagem, por exemplo, é decorada com a imagem da atriz sueca Ingrid Bergman. Murais pela cidade estampam astros da sétima arte. O casal de namorados assiste no cinema ao filme Juventude Transviada, iluminado pelo lendário James Dean. 

A trama é despretensiosa, na linha do rapaz que conhece moça, se apaixonam após antipatia inicial e atam um romance promissor, sujeito a previsíveis percalços. A diferença é o final, inesperado. Essa fórmula batida é desfiada, com boa dose de interesse, graças às performances solares dos protagonistas Emma Stone e Ryan Gosling, que emanam química e carisma na tela. Ela, que aprendeu canto e sapateado, incorpora uma talentosa atriz principiante e ele encarna um competente pianista de jazz – o ator toca piano de verdade durante os segmentos musicais. Ambos os personagens em busca de um lugar ao sol, como milhares que rumam para Hollywood atrás do estrelato.

O relacionamento percorre as quatro estações do ano, porém se fragiliza na medida em que as diferentes aspirações de carreira se tornam embaraços de difícil administração. O  Impulsivo e intransigente, Sebastian aprecia o jazz puro e autêntico, ama Miles Davis e sonha abrir um clube de jazz. Vive de bicos, tocando canções natalinas em um restaurante tradicional ou dedilhando sintetizador como integrante de uma banda estilo anos 1980, que se apresenta em festas privadas. A perspectiva de alavancar dinheiro surge com o convite de um amigo, que o persuade a ingressar no seu grupo musical, afeito a um pop mais palatável – os shows, com direito a dançarinas em trajes vaporosos, são um sucesso e existe uma turnê extensa pela frente. Já a devotada e meio desesperada Mia trabalha como barista em uma cafeteria na região da produtora cinematográfica Warner Bros Pictures. Nas horas vagas arrisca-se em audições de filmes, que acabam virando experiências infrutíferas e humilhantes. Como as separações têm sido cada vez mais prolongadas, por conta das viagens profissionais do tecladista, e ela ainda não saiu do lugar, o equilíbrio do vínculo afetivo se desfaz.   

Embora não sejam notáveis na pele de dançarinos, Emma e Gosling chegam a mostrar desenvoltura nessa função e são filmados da cabeça aos pés, sem artifícios visíveis, em ininterruptas tomadas. O par convence também na hora de cantar, em solos ou duetos, nunca se subordinando às composições, que funcionam como esteio para contar a história, expor pensamentos e traduzir emoções. Passagens marcantes fermentam o enredo. Em uma delas, Mia e Seb estão visitando o renomado Observatório Griffith e literalmente bailam entre as estrelas. Em outra, uma ceia surpresa organizada por ele descamba para uma discussão da relação.

À semelhança do início, o desfecho produz outro choque estético. Após um lapso de tempo, eles não conseguem mais se lembrar de seus sentimentos. Por meio de um encadeamento tocante e inflamado de cenas, sem o uso de palavras, os dois passeiam, cantam e dançam apaixonados por Hollywood. Trata-se de um novo contexto, um flagrante de fantasia que evoca sonhos desfeitos, aquilo que poderia ser e não foi, tudo banhado em melancolia. 

(Edgar Olimpio de Souza - O endereço de e-mail address está sendo protegido de spambots. Você precisa ativar o JavaScript enabled para vê-lo. )   

(Foto Divulgação)

 

Avaliação: Bom

 

La La Land – Cantando Estações

Título Original: La La Land (EUA, 2016)

Gênero: Drama Musical, 128 min.

Diretor: Damien Chazelle

Elenco: Emma Stone, Ryan Gosling, John Legend, J. K. Simmons e outros.

Estreou: 19/01/2017

 

Veja trailer do filme:

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