EDITOR: Edgar Olimpio de Souza (O endereço de e-mail address está sendo protegido de spambots. Você precisa ativar o JavaScript enabled para vê-lo.

 

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Mapas para as Estrelas

O cineasta canadense David Cronenberg expõe os monstros humanos neste seu mais recente filme, embalado por humor negro e pitadas de melodrama. A Hollywood retratada é um mundo cínico, de egos inflados e excessos de todos os tipos. Pela lente do diretor, as criaturas que por ali circulam merecem mais compaixão do que desprezo, porque tentam sobreviver em um ambiente infestado por fantasmas reais e simbólicos.

São personagens que vazam suas obsessões e desejos e esbarram na dificuldade em escapar de si mesmos. Uma dessas figuras absurdas é a delirante Agatha (Mia Wasikowska), moça com partes do corpo desfiguradas por queimaduras, que parece ter desembarcado em Los Angeles como simples visitante. Na verdade, ela tem planos que vão além do passeio turístico. Graças ao contato com a atriz Carrie Fischer, em pele e osso na trama, descola emprego como assistente pessoal de Havana Segrand (Julianne Moore), uma atriz de meia idade que se encontra à deriva, em luta desesperada para resgatar os dias de glória. A volta por cima pode ser o protagonismo na nova versão de um filme em que sua mãe, morta ainda jovem em um incêndio, havia estrelado em sua breve carreira. A falecida (Sarah Gordon), por sinal, assombra Havana em súbitas aparições pela casa e faz questão de revelar sua decepção com a filha – trata-se de sutil crítica a uma Hollywood que ignora seu passado.

Por caminhos entrecruzados, o público passa a estabelecer as necessárias conexões. Agatha é irmã de Benjie (Evan Bird), um arrogante e ególatra ator adolescente que fez muito sucesso em uma franquia de comédia popular e acabou de passar por tratamento para se livrar da dependência química. Em determinada cena, o mimado menino visita uma vítima de câncer em hospital. A garota elogia o seu trabalho no cinema e ele responde, com mentalidade corporativista, que tal produção alcançou oitenta milhões de dólares no mundo inteiro.

A mãe (Olivia Williams) age como trator no agenciamento do filho e o pai (John Cusack), um psiquiatra xamânico, desenvolve uma terapia do grito, na qual as pessoas vomitam seus traumas e têm reações exasperantes. Uma de suas pacientes, aliás, é Havana e há uma cena na esteira de yoga com clara sugestão de sexo entre eles. Esta família disfuncional tentará afastar Agatha de suas vidas, mesmo à força, que chegou sem avisar e carrega eventos desagradáveis de outrora que precisam ser mantidos em segredo. A fauna de personagens pouco convencionais conta ainda com um flutuante motorista de limusine (Robert Pattinson), um tipo blasé aspirante a roteirista que está disposto a se converter para a Cientologia, uma forma de se projetar na indústria cinematográfica.

Trata-se de um filme que, ao olhar sarcasticamente Hollywood, mergulha em questões espinhosas como abuso infantil, incesto, incêndios misteriosos, mortes abruptas, escândalos de tablóide, aparições fantasmagóricas e revelações escabrosas. O psicodrama emanado lembra, em alguns momentos, A Cidade dos Sonhos, de David Lynch, porém sem o sotaque surrealista daquela produção. Cronenberg esfrega observações sobre como gente famosa se comporta vulgarmente e necessita da adoração incondicional, sob pena de naufragar no álcool ou em terapias escapistas. Hollywood, na visão cáustica do cineasta, é um sistema autodestrutivo. Uma espécie de doença congênita.   

 (Edgar Olimpio de Souza – O endereço de e-mail address está sendo protegido de spambots. Você precisa ativar o JavaScript enabled para vê-lo. )

(Foto Divulgação)

 

Avaliação: Bom

 

Mapas para as Estrelas

Título Original: Maps to the Stars (Canadá,  EUA , França , Alemanha, 2014)

Gênero: Drama, 111 min

Direção: David Cronenberg

Elenco: Mia Wasikowska, Juliette Moore, John Cusack e outros.

Estreou: 19/3/2015

 

Veja trailer do filme:

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