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Artigos

Teatro: Celebração

No mínimo é devastadora a maneira como o dramaturgo inglês Harold Pinter, morto no final de 2008, examina o mundo atual. Nesta peça imperdível, que volta ao cartaz na cidade, os homens são vistos como obcecados por sexo, dinheiro e status. E cada vez mais afetados e vulgares à medida que entorpecem a mente de álcool. Vivem se agredindo e trocando farpas, porém, sem perder a elegância ensaiada, a pompa e os bons modos para inglês ver. O espectador que assistir a tudo isso por uma lente de grande angular ficará desconcertado diante de um cenário de aparências que se despedaça aos poucos. Incisivo e sarcástico, Pinter exacerba que a civilização fracassou e sobrou um vazio existencial. Basta observar o comportamento dos três casais que jantam num refinado restaurante. Um deles, Julie e Lambert, comemora o aniversário de uma relação tão desgastada que, no fundo, mais parece uma peça de ficção. A farsa é corroborada pelo casal acompanhante, Prett e Matt. A poucos metros dali, o banqueiro Russel e a esposa Suki festejam o sucesso profissional dele. Todos bebem, fumam e riem desbragadamente. O dado terrível é que nessa guerra surda de palavras, o que não é dito tem mais relevância. Lembra a fábula dos três macaquinhos, que nada ouvem, escutam ou enxergam, mas sentem alguma coisa no ar.

Visto de outro ângulo, esta comédia cáustica poderia ter o registro de uma tragédia com toques de suspense – os diálogos são tão imprevisíveis que ninguém consegue antever a próxima cena ou vislumbrar reviravoltas. Para disfarçar as lutas de poder e o acúmulo de ressentimentos, o grupo forjou uma celebração e a fraude vai sendo desnudada gradualmente, embora eles continuem fingindo não estarem se afrontando e se confrontando. O diretor Eric Lenate é reverente ao texto do autor inglês, mas não resiste em colher no cinema do diretor italiano Fellini ingredientes que tonificam o ridículo da situação. Como aqueles personagens caricatos de Amarcord, que parecem surgir de lugar nenhum. O garçom do restaurante, de sorriso engessado e patins sob os pés, parece um dessas figuras excêntricas. Ao se intrometer vez ou outra na conversa dos casais para reverenciar o seu avô, involuntariamente acaba oferecendo instantes de trégua e alívio. Na encenação, o trabalho das cores e o desenho da maquiagem exageram o inusitado e por vezes remetem à linguagem clownesca. Lenate imprime fluência à montagem e respeita o rodízio de quadros proposto pelo autor. Coeso e homogêneo, valendo-se da força do coletivo, o elenco vitamina a ação com amplo domínio do palco e encharca os papéis de comicidade cruel. Em sua ironia cortante, Pinter monta uma arena de embates que está mais para um salão de baile, com convidados que se apresentam de fantasia e máscaras e lentamente se desvestem. No fundo, são reféns de uma sociedade que perdeu referências e se alienou.

(Edgar Olimpio de Souza - O endereço de e-mail address está sendo protegido de spambots. Você precisa ativar o JavaScript enabled para vê-lo. )

(Foto: Bia Ferrer )

 

Avaliação: Ótimo

 

Celebração

Texto: Harold Pinter                                                                                                            

Direção: Eric Lenate                                                                                                      

Elenco: Adriano Suto, Alexandre Freitas, Carlos Morelli, Domingas Person e outros                                                                                                             

Estreou: 19/07/2009                                                                                                       

Espaço dos Parlapatões (Praça Franklin Roosevelt, 158, Consolação. Fone: 3258-4449). Quarta, 21h. Ingresso: R$ 30. Até 14 de julho.

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