EDITOR: Edgar Olimpio de Souza (O endereço de e-mail address está sendo protegido de spambots. Você precisa ativar o JavaScript enabled para vê-lo.

 

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Teatro: Assassinato Para Dois

Nesta comédia musical de mistério, com um morto na sala de estar de uma mansão, todo mundo é suspeito. Um ator interpreta o detetive, junto de seu parceiro silencioso. Seu companheiro de palco encarna as demais pessoas presentes à trágica festa. Escorada em estética noir, com ritmo de vaudeville, uso de elementos da comédia dell’arte e humor físico, a trama dos dramaturgos americanos Joe Kinosian e Kellen Blair satiriza as clássicas histórias de assassinatos protagonizadas por típicas figuras com algum grau de culpa no cartório. Alguém pensou em Agatha Christie? 

Com direção de Zé Henrique de Paula, o enredo desmiolado começa quando um romancista americano, que costuma transpor a vida privada de seus amigos e conhecidos às páginas de seus livros, levou um tiro na cabeça na noite do aniversário surpresa. Quem teria cometido o ato? Os suspeitos são interrogados. Cada um tinha razões e motivos suficientes para desejar a morte do escritor. Há a esposa ressentida, que promoveu o encontro festivo, a amante bailarina de voz sexy do falecido, o casal vizinho mal-humorado, o psiquiatra fanho que trata de todos ali, um coral pateta de meninos de rua, sobreviventes de uma tragédia no acampamento, a insuportável universitária às voltas com um doutorado sobre assassinatos em pequenas cidades. 

No melhor estilo dos célebres comediantes Irmãos Marx, os versáteis atores Marcel Octavio e Thiago Perticarrari transbordam destreza e exibem timing perfeito para a comicidade e a música. A dupla faz com que tudo pareça fácil, missão difícil diante da necessária concentração e sincronia que o trabalho exige. Ambos também revelam desenvoltura em correr para o piano e executar uma canção, sozinho ou em duo, em cenas geralmente hilárias - às vezes chegam, no meio da melodia, a trocar quem está interpretando. Com direção musical de Fernanda Maia, a deliciosa trilha sonora recheada de valsas e jazz funciona para empurrar a ação para frente.

Sem apelar para a caricatura, Perticarrari encarna o policial provinciano e sem noção, um sujeito determinado a conseguir promoção e que precisa esclarecer logo o caso antes da chegada do verdadeiro detetive. Apesar de nutrir o desejo de dominar a situação, o investigador mal consegue exercer um controle de fato sobre a investigação, mesmo porque ele tem esqueletos no armário para esconder. Octavio alcança impressionante desempenho na pele de seus diversos personagens. Ele muda a linguagem corporal, as expressões e o acento vocal em rapidez estonteante, saltando de um para o outro em frações de segundos e sem esforço aparente. Em uma sequência impagável, realiza dueto com ele mesmo, ao revezar a mulher e o marido em conflito conjugal.  

A montagem é energizada pela direção repleta de conscientes bobagens de Zé Henrique de Paula, que não deixa a encenação perder ossatura ao longo de sua progressão. O diretor, que trabalha com dois intérpretes, um piano e poucos objetos de cena, obtém efeitos máximos a partir de recursos mínimos. A teatralidade é preservada e em momento algum corre o risco de descambar para o pastelão desnecessário.

Não existe nada de original na peça. De certa forma pueril e despretensioso, o texto faz até um chiste ao gênero musical – logo de cara se anuncia que “estamos testemunhando a lenta e dolorosa morte do teatro americano”. Na verdade, o que importa aqui não é a identidade do assassino e porque matou, mas a maneira irreverente como o suspense se desenvolve. Ninguém vai embora mais inteligente do que entrou.

(Edgar Olimpio de Souza – O endereço de e-mail address está sendo protegido de spambots. Você precisa ativar o JavaScript enabled para vê-lo. )

(Foto Caio Galluci)

 

Avaliação: Bom

 

Assassinato Para Dois

Texto: Joe Kinosian e Kellen Blair     

Direção: Zé Henrique de Paula

Elenco: Marcel Octavio e Thiago Perticarrari

Estreou: 02/11/2021

Teatro das Artes (Shopping Eldorado. Av. Rebouças, 3970, Pinheiros. Fone: 3034-0075). Ingressos: R$ 35 e R$ 70 (www.sympla.com.br). Terças e quartas, 21h. Até 08 de dezembro.  

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