Teatro: A Noviça Rebelde

Trata-se de um dos mais queridos musicais de todos os tempos, desde sua estreia na Broadway, em 1959. Nenhum outro espetáculo conquistou uma trajetória de sucesso tão duradoura e se instalou na memória afetiva de várias gerações. Após ganhar oito prêmios Tony, a montagem inspirou um icônico longa-metragem (1965) estrelado por Julie Andrews e Christopher Plummer, que chegou a faturar o Oscar de Melhor Filme. A fórmula é simples e funciona: uma sedutora história de amor e uma corajosa fuga dos nazistas.

Ambientada na Áustria pouco antes da Segunda Guerra Mundial, e vagamente baseada em fatos reais, a história conta a saga de uma família aristocrática, que vê sua rotina ser abalada com a presença da noviça Maria. Insatisfeita com sua vida no convento, ela havia sido enviada para trabalhar como governanta de sete crianças irrequietas na casa do viúvo Capitão George Von Trapp. Não demora e ambos se apaixonam, mas o romance é ameaçado por uma rival e pelo clima político cada vez mais opressivo. Em 1938, com a anexação da Áustria pela Alemanha nazista, o barão é forçado a servir na Marinha alemã. Valendo-se de um plano mirabolante, o clã decide fugir para a América para tentar sobreviver de música.

A dupla de diretores Charles Moeller e Claudio Botelho, que já tinha assinado uma leitura do musical em 2008, consegue bom resultado à frente de um elenco de 45 atores. Malu Rodrigues, a filha Louisa na versão anterior, agora encarna a protagonista Maria. Ela amadureceu como intérprete e apresenta desempenho virtuoso, exibindo belíssima voz e alcançando as notas altas com muita segurança – suas cenas com a garotada são envolventes. Com tipo apropriado e empenho visível, Gabriel Braga Nunes dá vida a Von Trapp, herói da resistência à ocupação nazista em seu país. Num registro excessivo e caricato, Marcelo Serrado se mostra à vontade como Tio Max, arrancando boas risadas da plateia. Ambos não têm vocais que impressionam, mas cumprem a função satisfatoriamente.

Dona de voz potente, Gottsha está esplêndida como a Madre Superiora, imprimindo doçura e autoridade ao papel. Os empregados da família são vividos com hilaridade pelos experientes Nábia Villela e Roberto Arduin. Convincente, Alessandra Verney faz uma baronesa fina e elegante e brilha na canção O Que é Que a Gente Faz?. Os capitães nazistas são executados com bom rendimento por Luiz Guilherme e Fábio Augusto Barreto. Jana Amorim, Raquel Antunes e Marya Bravo demarcam desempenhos apaixonados como as irmãs mais próximas à Maria. 

À frente do elenco infantil, na pele da filha mais velha Liesl, a atriz e cantora Larissa Manoela se destaca na deliciosa canção Sixteen Going on Seventeen, um encontro escondido com o namorado Rolf (Diego Montez, em boa performance). Os irmãos são assumidos com graça e talento por Beatriz Dalmolin (Louisa), Leonardo Cidade (Friederich), Dudu Ejchel (Kurt), Valentina Oliveira (Brigitta), Lorena Queiroz (Marta) e Madu Agois (Gretl).

Na parte técnica, Moeller e Botelho contaram com o cenógrafo inglês David Harris, responsável por projetos cênicos de espetáculos como Les Miserables. Ele produziu uma estrutura neutra com efeitos de luz, que lembram pinturas. Os bonitos figurinos, alusivos à primeira metade do século passado, são do também inglês Simon Wells. O diretor musical Marcelo Castro rege uma orquestra de dezoito músicos, um grupo que cintila nas canções da dupla Rodgers e Hammerstein, papas do teatro musical entre as décadas de 1940 e 1950. The Sound of Music, Do-Re-Mi, My Favorite Things e So Long, Farewell são cantadas pelo elenco nas versões em português de Botelho. Completam a equipe, Alonso Barros (coreógrafo), Drika Matheus (designer de luz), Marcelo Claret (designer de som) e Simone Momo (visagismo).

Se o primeiro ato funciona como um típico drama familiar, o segundo adquire contornos políticos. Mesmo com clichês e transições emocionais que parecem um tanto apressadas, o musical tem o condão de agradar públicos variados. Porque todo mundo está diante de decisões difíceis. Maria não se enquadra nas rígidas normas do convento e busca uma alternativa de vida. Von Trapp precisa optar se enfrenta os nazistas ou se deixa o país. Dilemas éticos bastante humanos.     

(Vinício Angelici – O endereço de e-mail address está sendo protegido de spambots. Você precisa ativar o JavaScript enabled para vê-lo. )

(Foto Divulgação)

 

Avaliação: Ótimo                                                                                                     

 

A Noviça Rebelde

Texto: Howard Lindsay e Russel Crouse, baseado no livro The Story of the Trapp Family Singers

Músicas: Richard Rodgers

Letras:  Oscar Hammerstein II

Direção: Charles Moeller e Cláudio Botelho

Elenco: Malu Rodrigues, Gabriel Braga Nunes, Alessandra Verney, Marcelo Serrado e outros.

Estreou: 28/3/2018

Teatro Renault (Avenida Brigadeiro Luis Antonio, 411, Bela Vista. Fone: 4003-5588). Quarta a sexta, 21h; sábado, 16h e 21h; domingo, 15h e 20h. Ingresso: R$ 75 a R$ 310. Até 27 de maio.

 

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