EDITOR: Edgar Olimpio de Souza (O endereço de e-mail address está sendo protegido de spambots. Você precisa ativar o JavaScript enabled para vê-lo.

 

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Sobre Ratos e Homens

É uma história de solidão, de pessoas que precisam do outro para sobreviver. Ambientada durante a Grande Depressão na década de 1930, a trama tem como personagens centrais dois nômades, à margem da sociedade, em busca do chamado sonho americano de ter uma casa própria e trabalho digno. George é um deles. De olho na sua independência econômica, ele peregrina ao lado do protegido Lennie, um brutamonte com mente de criança, à procura de trabalho. Ambos acabam desembarcando em um rancho no interior da Califórnia. O local é um verdadeiro barril de pólvora, prestes a explodir e levar junto os personagens que ali arrancam a sua subsistência.  

Escrito pelo dramaturgo americano John Steinbeck, em 1937, o poderoso e controvertido romance foi adaptado para o teatro pelo autor no mesmo ano e ganhou quatro versões para o cinema. Uma das mais famosas (1992) estourou nas bilheterias e foi protagonizado por John Malkovich (Lennie) e Gary Sinise (George), que assinou a direção. Virou também musical na Broadway em 2014, com Chris O’Dowd (George) e James Franco (Lennie). No Brasil, a peça foi montada pela primeira vez seis décadas atrás e marcou a estreia de Augusto Boal (1931-2009) no mítico teatro de Arena, em um espetáculo capitaneado por Gianfrancesco Guarnieri (George) e José Serber (Lennie). Não é muito comum que um texto contundente, cuja força narrativa está centrada na relação entre George e Lennie, tenha permanecido engavetado por tantos anos. Por isso é promissor que uma nova encenação esteja em cartaz em São Paulo, com bons resultados, dirigida por Kiko Marques. 

No enredo, os impotentes e mal remunerados homens que atuam na fazenda são seres que lamentam suas vidas solitárias e vivem na expectativa de dias melhores. George alimenta o plano de adquirir um acre de terra e nele construir sua fazenda. O dependente Lennie quer estar sempre ao seu lado. Candy teme que sua idade avançada o torne inútil. O orgulhoso e discriminado negro Crooks, que cuida dos cavalos, deseja ser aceito socialmente. Slim se vale de sua intuição e autoridade para atrair os outros peões. Carlson vive se queixando do velho cão malcheiroso de Candy e se prontifica a sacrificá-lo. A única mulher da propriedade é uma fracassada aspirante à atriz que se casou com Curley, o arrogante e ciumento filho do proprietário – sem obrigações, a atrevida jovem passa o tempo todo flertando com os machos do lugar.

Fiel à dramaturgia de Steinbeck, Kiko Marques valoriza cada palavra e cria um espetáculo humano e de forte sensibilidade. Conseguiu ótimo resultado do elenco de oito atores, que dão dignidade e gravidade aos personagens. Ricardo Monastero interpreta de forma vigorosa George, um sujeito franzino e esperto. No difícil papel do gigante sem cérebro Lennie, dono de uma força desproporcional que eventualmente o leva à ruína, Ando Camargo exala nuances e comove, em desempenho marcante. O veterano ator Luiz Serra encarna com garra e humor Candy, o velho empregado que ansia por segurança. Natallia Rodrigues não chega a se destacar, mas transpira o ar da moça entediada num casamento infeliz. Uma prosaica brincadeira entre ela e Lennie será o estopim de uma tragédia anunciada. Gustavo Vaz (Slim), Cássio Inácio (Curley), Luciano Schwab (Carlson) e Tom Nunes (Crooks) completam o elenco, demarcando rendimentos convincentes e apaixonados.

A direção cercou-se de gente competente para dar suporte na parte técnica. Márcio Vinicius elaborou cenário rústico que reproduz com rigor alguns espaços do rancho, como o celeiro. A iluminação de Guilherme Bonfanti, apoiada em várias matizes de cores, instaura os climas necessários a cada ação dramática. Os figurinos de Fábio Namatame são adequados e atendem à proposta realista da encenação. A eficiente trilha sonora de Martin Eikmeier pontua todo o espetáculo. Nesse drama de Steinbeck, os personagens são símbolos das circunstâncias da época. Compõem uma plebe de sonhadores empenhada em resistir, mas que entra em rota de colisão com a dura e inóspita realidade da vida.  

(Vinicio Angelici – O endereço de e-mail address está sendo protegido de spambots. Você precisa ativar o JavaScript enabled para vê-lo. )

(Foto Luciano Alves)

 

Avaliação: Ótimo  

 

Sobre Ratos e Homens

Texto: John Steinbeck

Direção: Kiko Marques

Elenco: Ricardo Monastero, Ando Camargo, Luiz Serra, Natallia Rodrigues e outros.

Estreou: 04/05/2016

Teatro Faap (Rua Alagoas, 903, Higienópolis. Fone: 3662-7233). Quarta e quinta, 20h. Ingresso: R$ 40. Até 28 de julho.

 

 

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