EDITOR: Edgar Olimpio de Souza (O endereço de e-mail address está sendo protegido de spambots. Você precisa ativar o JavaScript enabled para vê-lo.

 

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O Musical Mamonas

Uma história de desfecho trágico. O grupo pop Mamonas Assassinas viveu carreira meteórica, de retumbante sucesso. Por pouco mais de sete meses, entre junho de 1995, ao estourarem nas paradas com seu único álbum de estúdio, até 2 de março de 1996, quando morreram num acidente de avião, os cinco integrantes da banda se tornaram celebridades, realizavam shows por todo o País e se apresentavam com freqüência em todos os programas populares de televisão.

O dramaturgo Walter Daguerre criou um roteiro sem mencionar diretamente o evento fatal, mas apenas tecendo alusões ao episódio. No início da peça, os músicos aparecem travestidos de anjinhos travessos, ostentando asas brancas, num lugar que lembra o céu. Então recebem do anjo Gabriel a missão de recontar a trajetória da trupe em formato de musical, com o intuito de subverter a mesmice que teria dominado o cotidiano dos brasileiros. A partir daí, segue-se uma narrativa cronológica do conjunto musical, que começou como Utopia, tocando rock progressivo, e deslanchou como Mamonas Assassinas, cujo primeiro trabalho, calçado em letras bem humoradas e hits de grudar no ouvido, vendeu três milhões de cópias e faturou o cobiçado disco de diamante. O autor optou por destacar mais a carreira artística do quinteto no lugar de explorar a vida pessoal de cada um.

O diretor José Possi Neto concebeu uma montagem pulsante, irreverente e cheia de escracho, numa tentativa – bem sucedida – de reproduzir a estética e a linguagem cartunesca emplacada pelo grupo. No fundo, a montagem funciona como uma espécie de paródia dos musicais biográficos, aqueles que seguem uma receita já testada e aprovada - cenas construídas para justificar as canções escolhidas, momentos apoteóticos e simplificações de enredo para captar sem floreios a atenção do público. Possi obteve excelente rendimento do elenco, desprezando a ideia de recriar no palco uma banda cover. Sem apelar para estereótipos, os cinco intérpretes encarnam os músicos com personalidade e nítido desembaraço.

Além da semelhança física com o tresloucado vocalista Dinho, o ator Ruy Brissac incorpora seus trejeitos, o ímpeto juvenil e a habilidade vocal em imitar pessoas conhecidas. Yudi Tamashiro (Bento), Adriano Tunes (Júlio), Élcio Bonazzi (Samuel) e Arthur Ienzura (Sérgio) são convincentes e transpiram carisma e entusiasmo. Vale destacar o desempenho de Patrick Amstaldem em vários papéis pontuais, chegando a roubar a cena em algumas passagens, especialmente na pele do produtor musical Rick Bonadio, que descobriu, produziu e agenciou a turma. Também encanta a participação de Bernardo Berro, perfeito na interpretação do menino Rafael e do apresentador Jô Soares. Um dos momentos mais cômicos é uma disputa dominical pela audiência entre os programas televisivos do Faustão e do Gugu Liberato.                                                                                                                                                                                                                              

Na parte técnica, o diretor cercou-se de profissionais competentes, que enriquecem a montagem.  Os figurinos de Fábio Namatame remetem aos anos 1990, abusando de divertidos modelos originais inspirados em personagens cults como Robin, Chapolin e Robocop. Vanessa Guillen desenhou coreografias bastante criativas e atléticas, bem assimiladas pelo elenco. Embora não muito bonitos, os cenários de Nello Marrese dão a ambientação adequada. Wagner Freire assina iluminação, em outro trabalho seguro. Responsável pela direção musical, Miguel Briamonte, em parceria com Possi, adicionou à encenação outras canções que marcaram aquela época. Além de títulos como Robocop Gay, Pelados Em Santos e Vira-Vira, êxitos monumentais da banda, a eclética trilha sonora inclui Comida (Titãs), Geração Coca Cola (Legião Urbana) e Sweet Child O´Mine (Guns N´Roses), além de outras músicas e grupos que influenciaram a carreira dos rapazes de Guarulhos. Eles não tocam os instrumentos, que são executados por cinco músicos profissionais posicionados atrás do palco. Espetáculo delicioso, com espírito de festa de adolescente e impregnado de humor besteirol. 

(Vinicio Angelici – O endereço de e-mail address está sendo protegido de spambots. Você precisa ativar o JavaScript enabled para vê-lo. )  

(Foto Rodrigo Rosa)

 

Avaliação: Bom    

 

O Musical Mamonas

Texto: Walter Daguerre

Direção: José Possi Neto

Elenco: Ruy Brissac, Arthur Ienzura, Adriano Tunes, Elcio Bonazzi, Yudi Tamashiro e outros.

Estreou: 11/03/2016

Teatro Procópio Ferreira (Rua Augusta, 2823, Jardins. Fone: 3083-4475). Terça a quinta, 21h. Ingresso: R$ 50. Até 25 de janeiro. 

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