Teatro: Tríptico
- Criado em Quarta, 14 Julho 2010 05:16
- Escrito por Edgar Olimpio de Souza
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Em todos os casos, além da percepção dos mecanismos de controle social e da influência de Beckett, o que sobressai é um retrato cru, absurdo, cínico e violento de uma sociedade que aliena e se alienou. Um documento sensível, mas amargo, da trágica época em que vivemos. Tudo mostrado sem traumas e sofrimentos, de forma inacreditavelmente corriqueira. Os personagens até falam uns com os outros, riem e discutem, quase sempre seguindo uma partitura de poucas notas e inflexões. No entanto, em ironia seca, precem mais falar de e para si. Por momentos, chegam a cantarolar letras paródicas. Nota-se um desespero sutil por uma busca de identidade perdida. Com mínima interação física, rigoroso trabalho vocal do elenco, pouco investimento emocional, silêncios e pausas, a encenação trata de romper clichês previsíveis e tonificar a atmosfera de monotonia. O tédio, porém, faz parte do jogo do autor e diretor, mas não domina o ambiente por conta da curta duração de cada espetáculo (máximo de 45 minutos). A repetição obsessiva de procedimentos já vistos em outros trabalhos do grupo, diga-se, não significa redundância. É uma tentativa, parcialmente eficiente, de criar novos significados. Desdramatizada, minimalista e de forte assinatura, as três montagens requerem comprometimento e curiosidade do público para o risco, além de algum esforço de compreensão. A iluminação fria e rarefeita, que tem como contrapartida o aviltamento da máscara facial, torna-se uma estratégia - a parte não vista deve ser concluída pelo espectador. Curiosamente os personagens se apresentam por inteiro, mas sabemos pouco deles ao final. Potencializado por uma encenação escassa e dura, Maxwell faz uma radiografia cruel desse admirável mundo novo, em que todos vêem com estranheza o seu semelhante.
(Edgar Olimpio de Souza - O endereço de e-mail address está sendo protegido de spambots. Você precisa ativar o JavaScript enabled para vê-lo. )
(Foto Julieta Bacchin)
Avaliação: Bom
Tríptico
Texto: Tríptico (Burger King / Casa / O Fim da Realidade)
Autor: Richard Maxwell
Direção: Roberto Alvim
Elenco: Juliana Galdino, Kenan Bernardes, Rodrigo Pavon e outros
Estreou: 25/06/2010
Club Noir (Rua Augusta, 331, Consolação. Fone: 3255-8448). Sexta, 21h (Burger King); sábado, 21h (Casa); domingo, 20h (O Fim da Realidade). Ingresso: R$ 10. Até 27 de fevereiro de 2011.
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